Peregrinação Nacional dos Acólitos | Diocese Bragança-Miranda

Fátima, 1 de maio de 2015

 

1. Servir ao altar é servir Cristo

A vós, acólitos e acólitas não instituídos também se aplicam as sábias palavres de S. Paulo aos Colossenses: «No que fizerdes, trabalhai de todo o coração, como quem o faz para o Senhor e não para os homens, sabendo que é do Senhor que recebereis a herança como recompensa. O Senhor, a quem servis, é Cristo» (Col 3, 23-24).

Servir ao altar é servir a Cristo e aos irmãos, não só na celebração litúrgica, mas na liturgia da vida de cada dia. Servi a Cristo na Família, na Paróquia, na Escola, nos mais pobres, nos mais idosos, nos doentes, ou melhor a todos os que precisarem de vós.

É belo celebrar esta Eucaristia com tantos servidores do único e mesmo mistério de Cristo. A Igreja presente em Portugal, em cada uma das nossas Dioceses alegra-se com a vossa juventude e entusiasmo no serviço da Liturgia.

A peregrinação a este santuário, «o coração espiritual de Portugal» (Bento XVI), neste tempo pascal e ao início de Maio, onde a Mãe de Deus nos mostrou a graça e a misericórdia, tem de questionar o vosso coração: Senhor que queres que eu faça?

Seguir Cristo compromete. É uma escolha de vida ou de morte! Mas não há que ter medo, pois à semelhança do Eis-me, envia-me de Isaías, a jovem de Nazaré Maria, no seu dinamismo total diante do Anjo do Senhor que a convidava para um extraordinário projecto, responde: Eis-me.

Caros jovens, escutai Deus no silêncio do coração e tende coragem de ser felizes, como vos exorta o Papa Francisco. «Eis-me aqui. Envia-me» (Is 6,8) pode ser a vossa oração diária. Convido-vos a rezar esta resposta à Vocação, todos os dias!

O acólito é peregrino por Cristo, com Cristo e em Cristo, como rezamos na doxologia da Oração Eucarística. Em cada Eucaristia temos 3 procissões (entrada, preparação dos dons e comunhão) que visibilizam este itinerário do serviço ao altar, que é Cristo, a nossa Páscoa. Da peregrinação à conversão do coração, reaprendamos o sentido da comunicação na Liturgia, que acontece de modo eloquente nos ritos e nas orações e, sobretudo, no silêncio orante.

 

2. José, o homem do silêncio ouvinte

Se no princípio era o Verbo para Deus, para o homem, no princípio é a escuta. A escuta é, com efeito, o lugar da conversão do coração no silêncio. O silêncio tem de ser ouvinte como o silêncio eloquente de uma catedral, conforme o poema de Sophia de Mello Breyner: «escuto mas não sei

Se oque oiço é silêncio

Ou deus (…)

Apenas sei que caminho como quem

É olhado amado e conhecido

E por isso em cada gesto ponho

Solenidade e risco».

Vivemos um tempo que nada ajuda ao silêncio. Todavia, este tempo com situações novas, não apenas uma época de mudanças mas uma mudança de época, desafia-nos à Esperança.

A exemplo de S. José vivamos a paz que nos nasce da confiança de sermos filhos muito amados de Deus, porque criados à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 26).

 

3. Francisco, o contemplativo

Francisco, o patrono dos acólitos portugueses, experimentou Deus na simplicidade do coração e conseguiu ver o invisível e dizia: «nós estávamos a arder, naquela luz que é Deus, e não nos queimávamos. Como é Deus! Não se pode dizer». Nestas palavras Francisco, sem o saber, traduziu o sentido da Liturgia.

Fazer aquele pouco que depende de mim é o contributo positivo que cada um pode oferecer à comunhão e à unidade da Igreja. A verdade está no coração de quem sabe amar e servir.

Os vários ministérios operantes no interior da celebração, para o bem do povo de Deus não são funções de poder mas de diaconia que deriva do sacerdócio de Cristo. A regra de ouro de cada ministro ou simples fiel no exercício da sua função é «fazer tudo e só o que é da sua competência, segundo a natureza do rito e as leis litúrgicas» (SC 28).

O sacramento do Altar leva-nos ao sacramento do irmão, isto é, a Missa leva à Missão. Nunca esqueçamos que existe uma relação íntima entre o rito e a vida, para que possamos viver em Cristo, Aquele mesmo que acreditamos e celebramos na Liturgia.

+ José Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda