Sexta-feira Santa | Algumas Nota da Homilia de D. José Cordeiro | Diocese Bragança-Miranda
Cruz, pergunta sempre aberta
Sexta feira santa
02.04.2021
1. Hora da Glória
Hoje contemplamos e adoramos o crucificado, como profetizara Zacarias: «hão-de olhar para Aquele que trespassaram» (12,10).
Vivemos os dias supremos da nossa salvação.
A Cruz é a pergunta sempre aberta.
Perda de sentido, perda de segurança e perda de lugar?
«Quando for elevado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12, 32). Cristão por atração.
A cruz imprime beleza do ato de amor.
Esta é a Hora da Glória (excesso de amor).
Deus não me salva da cruz, mas Deus salva-me na cruz.
Não é o sofrimento que salva. É o amor!
A fé não é uma seguradora contra os infortúnios da vida.
Não nos salvamos sozinhos.
«A Páscoa sem cruz é vazia. A cruz sem Páscoa é cega» (E. Ronchi).
Quanta beleza tem a Cruz!
2. Pietà, Filha de Teu Filho
Hoje a presença da Virgem Santa Maria é a da Pietà, ou da tão conhecida expressão Stabat Mater: Com Dante Alighieri, no VII centenário da sua morte, a quem o Papa Francisco chama de profeta de esperança e testemunha da sede de infinito presente no coração do homem, podemos cantar os louvores da Mãe: «Virgem e mãe, que és filha de teu filho, / humilde e alta mais que criatura / de eterno querer termo fixo e brilho, / aquela és que a humanal natura / tanto nobilitaste, que o fator / não desdenhou fazer de si feitura». E, ainda, Dante põe na boca de São Bernardo: «Contempla agora a face tal que a Cristo / mais se assemelha, pois sua clareza / só te pode dispor a veres Cristo».
No mistério supremo da cruz tudo se cruza e renasce. Assim a encarnação é lembrada de modo tão belo: «no ventre teu reacendeu-se amor / e em paz eterna fez que germinasse / a seu calor assim tão bela flor». E o amor pleno na árvore da cruz: «O que não morre e o que morre / Não é senão o esplendor daquela ideia / Que o Senhor gerou, amando».
3. Silêncio crente e orante
O Silêncio e a comunidade reencontram-se sob o olhar do Crucificado.
É o tempo do grande silêncio (se o grão de trigo, ao cair na terra não morrer, ele permanece só; mas, se morrer, dá muito fruto – Jo 12, 24).
O silêncio de Deus não significa a ausência de Deus.
O silêncio de hoje envolve como a nuvem de incenso as preces de todas as pessoas que sofrem, especialmente as vítimas vivas e defuntas da atual pandemia.
Rezamos com todos e por todos e recordamos igualmente com a proximidade possível os velhos, os doentes, os reclusos, que costumava visitar nestes dias pascais.
O silêncio crente e orante é trilho de esperança para o encontro!
+ José Manuel Cordeiro
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Fotografia: BLR/SDCS.