Semana Santa e Tríduo Pascal em tempo de covid-19 | Tempo decisivo para o essencial | Diocese Bragança-Miranda

Caros diocesanos

Pax!

Num caminho, sem precedentes, para Páscoa – o coração do Ano Litúrgico –, agora prolongado o estado de emergência até ao dia 17 de abril, sexta-feira da Oitava da Páscoa, vos escrevo e saúdo na Paz e na Esperança, como já fiz no dia 19 de março.

 

1. Juntos na oração e na fraternidade

Estamos juntos, jovens e velhos. Estamos juntos “na mesma barca”. Estamos juntos, não tenhamos medo, embora o temor nos tome nestes “dias maus”. O mal comum só se poderá vencer com o Bem comum. Jesus Cristo está connosco: «Coragem! Sou Eu! Não temais!» (Mt 14, 27). Estamos juntos, vamos vencer juntos, como o testemunho das primeiras comunidades: «Todos eles tinham os mesmos sentimentos e eram assíduos na oração, juntamente com algumas mulheres, entre as quais Maria, Mãe de Jesus, e com os irmãos de Jesus» (At 12, 14); «e os que possuem bens socorrem os que têm necessidades, e perseveramos sempre unidos uns com os outros» (S. Justino).

Por isso, «Sê assíduo tanto na oração como na leitura. No primeiro caso falas tu com Deus, no segundo caso Deus fala contigo» (S. Cipriano, A Donato, 15). Nestes tempos, nos quais somos constantemente interpelados a lavar as mãos muitas vezes ao dia, é sugestiva uma bênção judaica própria para este gesto tão importante: «Bendito sejas, Senhor nosso Deus, Rei do universo, que nos santificaste pelos teus mandamentos e nos mandaste lavar a mãos».

Muitas pessoas, sobretudo as pessoas mais velhas têm partilhado o seu temor e tremor de se sentirem abandonados, de ficarem doentes e não terem ninguém a seu lado. A propósito, a fundadora dos cuidados paliativos escreveu: «No sofrimento e na dor há uma coisa mais forte do que todas as respostas e explicações: a presença» (Cicely Saunders). Sim a presença orante e silenciosa tem de levar a maior fraternidade, justiça e paz.  Na verdade, os problemas sociais já se sentem na economia das famílias, das IPSS’s e na sociedade.

 

2. Catedral, Domus Ecclesiae et orationis

Um sinal da nossa presença, tem sido a oração mais intensa e profunda ao domingo na Catedral com a oração do Rosário, das Vésperas e da celebração da Eucaristia.

«Uma catedral não é apenas um território sagrado exterior onde os nossos pés nos levam. Nem é apenas um templo fixado num determinado espaço. Nem apenas um porto de abrigo que os mapas assinalam. Uma catedral também se alcança com as nossas mãos abertas, disponíveis e suplicantes, onde quer que nos encontremos. Porque onde está um ser humano, ferido de finitude e de infinito, está o eixo de uma catedral». (Card. José Tolentino, Expresso 21.3.2020).

Em tempo de Covid-19, com o estado de emergência e com todas as medidas e sacrifícios que todos estamos a experimentar na vida quotidiana, também eu estou durante a semana na oração, no trabalho silencioso e no estudo humilde, aqui na casa episcopal e, ao fim de cada tarde, na celebração eucarística no Seminário de S. José, o coração da Diocese, confiando o sacrifício do “isolamento” social para a comunhão espiritual com todos e cada um. Ao mesmo tempo, sirvo com a inteira disponibilidade possível pelos meios ao dispor para conversar, atender, escrever, consolar, professar a fé, renovar a Esperança e dar o dom da caridade a tantos irmãos e irmãs.

Ao rezar por todos, lembro especialmente as pessoas mais velhas e as mais vulneráveis. Os mais velhos são as nossas raízes e como diz um provérbio africano: «as nossas verdadeiras bibliotecas». Que, pela sua infinita misericórdia, o Senhor venha em vosso auxílio com a graça do Espírito Santo (Liturgia).

Na proximidade crente, orante e confiante: «Gostaria de ser um bálsamo para muitas feridas» (Etty Hillesum).

 

3. Corações ao alto!

Renovamos a nossa mais profunda gratidão por todos os que praticam a caridade, a cidadania corresponsável, a criatividade pastoral e espiritual e a partilha das boas práticas para responder a este tempo muito difícil: aos Presbíteros, nossos indispensáveis colaboradores da Esperança; aos Diáconos; às famílias; às Paróquias; às Unidades Pastorais; às Pessoas Consagradas; aos Leigos; aos Seminaristas, aos Movimentos e Grupos eclesiais;

Um grande agradecimento à Cáritas Diocesana; às Fundações canónicas; aos Centros Sociais Paroquiais; às Santas Casas da Misericórdias; a outros Centros Sociais e Instituições; às Confrarias; às Irmandades; às Escolas; aos médicos, aos enfermeiros e a todos os profissionais de saúde e os que trabalham para garantir a vida de todos nos serviços essenciais.

Continuamos próximos, na oração e no serviço silencioso, a todos e a cada um, especialmente às Pessoas doentes, aos mais velhos e a todas as pessoas que vivem no sofrimento, na solidão, no isolamento, nos estabelecimentos prisionais de Bragança e de Izeda, na deficiência, na pobreza, na depressão, na ansiedade, no desemprego e na migração.

O Senhor conceda a Sua Luz, Paz e Consolação a todos os nossos irmãos e irmãs fiéis defuntos. O amor é mais forte que a morte. Está é a nossa Esperança. Esta é a Esperança Cristã!

Reconhecemos a inestimável colaboração recíproca com as instituições autárquicas, civis, académicas, das forças da segurança (Proteção Civil, PSP, GNR, Bombeiros...), da solidariedade social, da comunicação social e por todas as pessoas que buscam o Bem, a Justiça, a Paz e a Verdade na sua vida.

Podemos dizer que: «Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo» (Zygmunt Bauman). Todavia, somos chamados a cuidar uns dos outros.

Com uma oração escrita por Abbé Henri Pereyve (1831-1865), gostaríamos de cruzar o nosso olhar com o olhar do coração da Senhora das Graças e dizer-lhe com o coração ao alto:

 

«Virgem Santíssima, na vida gloriosa em que viveis,

não esqueçais as tristezas terrenas.

Lançai um olhar de bondade sobre aqueles que sofrem,

 que lutam contra as dificuldades

e que não cessam de experimentar as amarguras desta vida.

Tende compaixão daqueles que, amando-se, vivem separados.

Tende clemência do isolamento do nosso coração.

Tende caridade da fraqueza da nossa fé.

Tende bondade dos que são objetivo da nossa ternura.

Tende caridade dos que choram, dos que imploram, dos que sofrem.

Dai a todos a esperança e a paz».

 

Cordialmente em Jesus Cristo, eterna vida.

 

Bragança, 04 de abril de 2020.

+ José, vosso bispo e servidor do Evangelho da Esperança.