Congresso internacional «Atravessados pelo Amor e pela Esperança” – ‘Cuidar as Famílias com(o) o Pe. Brás’», Fátima, 17 e 18.05.2025 | Diocese Bragança-Miranda
Congresso internacional «Atravessados pelo Amor e pela Esperança” – ‘Cuidar as Famílias com(o) o Pe. Brás’», Fátima, 17 e 18.05.2025
VI DOMINGO PÁSCOA / C
Homilia
Queridos irmãos, queridas irmãs!
1.Celebramos o VI Domingo da Páscoa. À medida que a Páscoa se intensifica, o Espírito Santo une-Se à Igreja, para lhe ensinar todas as coisas e recordar tudo quanto Jesus nos disse e ensinou. No princípio, como agora, a Igreja não tem um livro de receitas para resolver cada problema, para enfrentar cada nova situação. Jesus deixou-lhe apenas o Evangelho e o Espírito Santo.
A Carta, recolhida no livro dos Atos dos Apóstolos (At 15,21-24), e que escutámos na Primeira Leitura, é um texto inspirador para uma Igreja em sínodo. É uma Carta Pastoral que resulta do primeiro Concílio da Igreja em Jerusalém, ou, se quiserem, daquela primeiríssima Assembleia sinodal.
Desta Carta, fruto da experiência pastoral, aprendemos três elementos essenciais para uma Igreja sinodal, onde todos caminham juntos: a humildade da escuta, o exercício do discernimento, com a coragem da renúncia e da novidade.
2.“Deixo-vos a Paz. Dou-vos a minha Paz. Não como o mundo vo-la dá” (Jo 14,27)!
A paz de Jesus não domina os outros, nunca é uma paz armada! As armas do Evangelho, que Jesus nos ensinou a usar, da sua Paixão à gloriosa Ressurreição, são a oração, a ternura, o perdão e o amor gratuito ao próximo, o amor a todos, o amor aos inimigos, o amor capaz de reconstruir e de reconciliar. Tudo isto são os fios do amor que artesanalmente tecem a vida de cada família.
A família é um mistério de amor: amor conjugal, maternal, paternal, filial, fraternal, amor dos avós pelos netos e dos netos pelos avós, dos tios pelos sobrinhos, etc. Nada mais constitui, liga, constrói e reconstrói a família senão o amor!
3.“Salvemos a Família e salvaremos o mundo” foi o mote inspirador de toda a vida e ação pastoral do Pe. Alves Brás. A intuição de que “a Família é a nascente donde brota a humanidade” e o compromisso concreto em cuidar desta nascente, pondo à sua disposição meios e recursos diversificados, é uma das suas grandes preocupações e motor dos seus empreendimentos.
Poderíamos falar dos quatro “as” do percurso pastoral do Pe. Alves Brás: atenção, amor, anúncio e acompanhamento das famílias.
Atenção. A escuta atenta é o primeiro passo para entrarmos com verdade no ambiente e ritmo do discernimento. Escuta das pessoas e das respetivas famílias e escuta do Espírito que fala nelas e em nós. Escuta empática, capaz de se deixar mudar por aquilo que nos toca a alma.
O Pe. Alves Brás procurou sempre amar as famílias: “no coração do mundo com o coração de Deus ao serviço das famílias”.
Anúncio. Urge uma verdadeira e necessária proclamação do Evangelho de Jesus Cristo às famílias, mostrando como «na encarnação, Ele assume o amor humano, purifica-o, leva-o à plenitude e dá aos esposos, com o seu Espírito, a capacidade de o viver, impregnando toda a sua vida com a fé, a esperança e a caridade. Assim, os cônjuges são de certo modo consagrados e, por meio duma graça própria, edificam o Corpo de Cristo e constituem uma igreja doméstica» (Al 67).
De facto, a família cristã deverá ser tecida, “artesanalmente”, pelos fios da conjugalidade, parentalidade e fraternidade místicas, realistas e oblativas. O mesmo será dizer por um amor místico, realista, oblativo e belo.
O testemunho do Pe. Alves Brás ensina-nos que acompanhar as famílias é alimentar. Trata-se de alimentar ou oferecer o pão, a palavra e o perdão. O pão da eucaristia e dos sacramentos, a palavra que dá sentido aos diversos momentos da vida e o perdão e a reconciliação, bens de primeira necessidade para a família e para a sociedade.
4.Perante as atuais dificuldades da pastoral familiar, deixemo-nos iluminar pelo testemunho do Pe. Alves Brás, com o intuito de passarmos de uma pastoral sobre a família ou para a família a uma pastoral em família, com a família, da família, de modo que as famílias se tornem sujeitos ativos da pastoral familiar (cf. AL 200; 287). E são-no, desde logo, pela própria vida familiar, onde se afirma e cresce a família como Igreja doméstica. E são-no, pelo testemunho de santidade quotidiana, vivendo de modo extraordinário as coisas ordinárias. E são-no pela relação de ajuda a outras famílias. E são-no pela participação em grupos, associações, movimentos, eclesiais, sociais ou culturais, que promovam a vida e a família.
Tudo isto, sugerido na Amoris Laetitia, estava já bem presente na vida e ação do Pe. Alves Brás.
5.São também cada vez mais importantes os pequenos grupos de famílias, como os que fazem parte do “Movimento por um Lar Cristão” (MLC) onde se possa escutar juntos a Palavra de Deus. Trata-se de procurar abrir os ouvidos e o coração à Palavra de Deus juntamente com os que estão à nossa volta, deixando que dê sentido à vida, para que sejam vividos com beleza as circunstâncias festivas e com coragem os momentos de prova e sofrimento. É para isto há que multiplicar pequenos grupos de famílias ao redor da Palavra de Deus, nomeadamente grupo do Movimento por um Lar Cristão (MLC).
Permanecem incisivas e oportunas as palavras do Papa Francisco pronunciadas, em 2022, no Encontro Mundial das Famílias: “Ao afirmarmos a beleza da família, sentimos mais do que nunca que devemos defendê-la. Não permitamos que seja inquinada pelo veneno do egoísmo, do individualismo, da cultura da indiferença e do descarte, e perca assim o seu “DNA” que é o acolhimento e o espírito de serviço. Os traços próprios da família: o acolhimento e o espírito de serviço dentro da família”.
À Sagrada Família de Nazaré, por quem o Pe. Alves Brás nutria uma devoção especial, confiamos a nossas famílias:
Protege, Santa Família de Nazaré, as nossas famílias,
Todos os casais, os filhos e os pais,
E enche de alegria, mais, mais e mais,
Todos os seus dias, manhãs, tardes, noites e vigílias.
Vela, Santa Família de Nazaré, por cada criança,
por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,
A todos os velhinhos, Santa Família de Nazaré, dai a mão,
e deixai em cada rosto um afago de esperança. Amén!
+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda e presidente da CELF