Palavras de conclusão de D. Nuno Almeida na Sessão de Abertura do Inquérito Diocesano da Causa de beatificação e canonização da Irmã Maria de São João Evangelista | Diocese Bragança-Miranda

Palavras de conclusão de D. Nuno Almeida na Sessão de Abertura do Inquérito Diocesano da Causa de beatificação e canonização da Serva de Deus
Irmã Maria de São João Evangelista

Igreja de Santa Maria Mãe da Igreja
Macedo de Cavaleiros| 15 de agosto de 2024 | 16.00 h

Senhor D. António Montes,
Caros Irmãos e Irmãs!

De novo agradeço a presença das autoridades religiosas e civis, dos consagrados e consagradas. Saúdo particularmente a Irmã Emília Seixas e as Religiosas da Congregação das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado, os familiares, os amigos e simpatizantes da Irmã Maria de São João Evangelista. Um obrigado especial a todos quantos já muito trabalharam e vão trabalhar na Causa que hoje estamos a iniciar na sua fase diocesana. Sem esquecer todos os que mais discretamente irão colaborar, de tantos modos, na Causa de beatificação e canonização da Serva de Deus Irmã Maria de São João Evangelista, permitam-me um agradecimento especial aos que acabaram de fazer o seu juramento:
Delegado Episcopal: Pe. Tiago Alves
Promotor da Justiça: Pe. Alexandre Sá
Notário: Dr. Leonel Gonçalves
Notária Adjunta: Dra. Sandra Vale
Postulador: Mons. Francisco Madero
Vice-Postuladora: Ir. Maria José Oliveira
Presidente da Comissão Histórica: D. António Montes
Membro da Comissão Histórica: Dr. Pedro Sind
Membro da Comissão Histórica: Ir. Conceição Borges

Alzira da Conceição Sobrinho, nasceu na aldeia de Pereira, no concelho de Mirandela, a 4 de abril de 1888.
Distinguiu-se, desde muito jovem, por uma ardente devoção à Eucaristia. O seu amor a Jesus levou-a à oferta total da sua vida.
A Irmã São João era uma mística. Muitas pessoas que a conheceram e com ela conviveram registam numerosos factos que as edificaram e sentem enorme gratidão
pelas graças que, com a sua oração, obteve de Deus.
Pela sua vida de oração profunda e intenso amor a Jesus, pela sua caridade, espírito de sacrifício e incondicional obediência continua a ser hoje para nós um incentivo a fazer da vida, com Jesus, uma Eucaristia permanente.
Faleceu com 94 anos, depois de prolongada doença, no dia de Corpo de Deus, sua festa predileta, a10 de junho de 1982, com fama de santidade.
Podemos, desde já afirmar com toda a segurança: A Irmã São João era uma mística.
O místico cristão é alguém que experimenta uma profunda relação de amor com Jesus Cristo. Esta “relação de amor” afeta todos os aspetos da sua vida.
O místico faz uma experiência tão forte e envolvente de Deus que não a pode guardar somente para si. O místico recebe um carisma, que é um dom do Espírito Santo dado a uma pessoa para o bem de todos. Tudo isto nós podemos ver na biografia da Irmã São João.
Segundo os místicos cristãos o amor verdadeiro nunca poderá ser uma relação privada e “doce” entre mim e Deus; pelo contrário, a medida real do nosso amor a Deus vê-se sempre no nosso amor sofrido pelos outros. A nossa fé tem a sua prova real e visibilidade no amor sofrido pelos outros. Assim aconteceu com a Irmã Maria de São João Evangelista.
Os místicos ensinam-nos a nunca separarmos os dois mandamentos que Jesus uniu: o do amor a Deus e do amor ao próximo! Assim foi com a Irmã São João.
Catarina de Sena via o seu “Noivo” (Jesus Cristo) na pessoa de todos os marginalizados, tal como Santa Teresa de Calcutá, no nosso tempo. Particularmente depois de receber a comunhão, na Missa, Catarina demorava-se na igreja de S. Domingos, mergulhada na oração e parecendo em êxtase. Bem depressa, Catarina se tornou motivo de conversa em Sena. Não faltou até quem se escandalizasse.
Catarina sentia-se, logo de seguida, chamada a servir os doentes, os moribundos e os pobres. Catarina começou também a sentir-se chamada a levar a paz e a reconciliação às famílias desavindas de Sena e, mais importante ainda, a tentar sanar as desastrosas e gravíssimas divisões na Igreja Católica do tempo.
Também para Santa Teresa de Ávila, o único teste da verdadeira oração é “obras, obras, obras” no serviço amoroso ao nosso próximo. Deixou escrito algo que revela o seu caráter de bom senso: “De santos carrancudos e devoções tolas, livrai-nos, Senhor!”.
Como é bom recordar o singelo conselho de Santa Teresa de Lisieux: “Uma palavra, um sorriso, muitas vezes são o suficiente para fazer florir uma alma triste”.
A linguagem dos místicos cristãos é sempre nova, ricamente poética, frequentemente paradoxal, altamente imaginativa, refletindo pensamentos talvez pensados mas nunca muito bem expressos. O discurso dos místicos cristãos parece, por vezes, quebrar as barreiras da linguagem, e os próprios místicos dirão que não conseguem articular plenamente as suas experiências espirituais.
Karl Rahner alertou que “o cristão de amanhã será um místico, alguém que experimentou algo, ou não será de todo cristão”. Mas deixou-nos talvez a mais concreta definição de um místico cristão: “Alguém que vive uma vida de fé, esperança e amor é um místico …”. Infelizmente, muitos de nós somos místicos reprimidos. Que o testemunho da Irmã São João nos ajude a crescer na experiência de fé, que é mística ou não tem qualidade, ou seja, viver na mais alta contemplação e caminhar lado a lado com todos, especialmente os mais pecadores, os mais frágeis e sofredores. Foi assim, com a Irmã São João!
Hoje iniciamos um percurso de reconhecimento da marca do Evangelho na vida da Irmã Maria de São João que a si mesma deixou este desafio: «Meu Deus conheces de perto como desejo ser uma grande santa; simples unicamente para tua honra e glória e atrair a ti especialmente ao teu adorável Sacramento da Eucaristia os corações de todos, todos os homens!» (DC 5, 21) Nesta frase, Alzira da Conceição Sobrinho resumiu o objetivo da sua vida, o motivo pelo qual damos hoje início ao Inquérito Diocesano, desejando que ela possa continuar a «atrair ao adorável Sacramento da Eucaristia os corações de todos, todos.»

“Ó alma minha,
coragem, olhos no alto;
oh, não te deixes abater
pelas provras da vida, nunca!

Sabes que Jesus está vivo
na Santíssima Eucaristia,
aquele Coração palpita por nós,
aqueles olhos nos contemplam
e aquela santa mente
pensa em nos socorrer”
(Irmã Maria de S. João Evangelista, sfrjs, Apontamentos Particulares, 2, 21)

+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda

Fotografia: Irene Rodrigues / Secretariado diocesano das Comunicações Sociais