O que se pode refletir sobre o Seminário hoje? | Diocese Bragança-Miranda

SEMANA DE ORAÇÃO PELOS SEMINÁRIOS 2022

O que se pode refletir sobre o Seminário hoje?

 

A REALIDADE HUMANA

A primeira proposta é a apresentação da realidade e mais do que a realidade física do Seminário, importa a realidade humana. Dos 15 aspirantes e candidatos ao sacerdócio que integram o Seminário Interdiocesano de São José, 1 é enviado pela Diocese de Bragança-Miranda.

A formação inicial do futuro presbítero da Diocese de Bragança-Miranda está a acontecer no Seminário Interdiocesano de São José, em Braga. É uma experiência sinodal de longa data, inaugurada muito antes da mudança para Braga, em 2013, promovida pelos Bispos das quatro dioceses de Bragança-Miranda, Guarda, Lamego e Viseu, que ali delegam a responsabilidade formativa a quatro formadores padres, um de cada diocese. É um trabalho de equipa que em cada ano se procura adequar à melhor formação integral dos seminaristas concretos que integram a comunidade formativa, o contexto necessário e imprescindível à formação, tendo em vista os futuros presbitérios.

Nesta formação integral, para além da comunidade de formadores e dos professores da Faculdade de Teologia, interagem muitos outros colaboradores, quer vindo à casa do Seminário para a direção espiritual e aprofundamento de vários assuntos de formação complementar (da promoção da identidade humana e da cultura eclesial), quer acolhendo os seminaristas em várias paróquias, promovendo aquela que chamamos de “experiência de aproximação gradual à prática pastoral”.

UMA ENCRUZILHADA DE ETAPAS E DIMENSÕES

As etapas da formação inicial para o sacerdócio que se promove no Seminário Interdiocesano de São José (que assume a responsabilidade de ‘Seminário Maior’ para aquelas quatro dioceses) ─ sublinhe-se que é só a formação inicial para o sacerdócio, com a duração de 6 anos ─ tem, no nosso contexto particular, 4 etapas: o propedêutico, o discipulado, a configuração I e a configuração II. Cada uma destas etapas tem o seu formador próprio e, não querendo ser estanques, visam metas claras e específicas do itinerário vocacional sacerdotal: da admissão entre os candidatos às Ordens Sacras, passando pelo ministério instituído de Leitor, até ao ministério instituído de Acólito.

Enquanto que o Ano Propedêutico (um ano) visa ajudar o aspirante a adaptar-se convenientemente do ponto de vista de tudo o que diz respeito à iniciação cristã e à maturidade humana requerida para o passo seguinte, a etapa do Discipulado (dois anos) destina-se a radiar os seminaristas na condição de ser discípulo, com a certificação das virtudes basilares que o poderão ajudar a avançar para a Configuração com Cristo. Esta etapa da configuração implica que o aspirante seja admitido entre os candidatos às Ordens Sacras, com as quais passará a ser um candidato propriamente dito. Na nossa experiência formativa, dividimo-la em configuração I e II, para melhor ajudar os seminaristas a viver os conselhos evangélicos da pobreza que ajuda a viver a simplicidade de vida, da castidade que ajuda a viver a maturidade afetiva e da obediência que ajuda a viver a comunhão ou sinodalidade no concreto das próprias dioceses. Nestas etapas, os seminaristas são ajudados a preparar-se para a celebração e vivência do ministério instituído de leitores e acólitos, com os valores que os mesmos implicam na configuração com Cristo Servo e Pastor. Já fora do Seminário, num 7º ano, deverá acontecer o tempo de estágio pastoral, em que o candidato será convidado a viver a etapa da síntese vocacional, que não acabará nunca. Terá como ponto de chegada e de partida as celebrações dos dois primeiros graus do Sacramento da Ordem.

As dimensões da formação integral dos seminaristas são quatro e acontecem num clima comunitário: humana, espiritual, intelectual e pastoral. Na dimensão humana, olhamos para aquelas qualidades naturais que é preciso valorizar e potenciar, nos âmbitos físico, psicológico, moral, estético e social. A promoção da dimensão espiritual consiste, como “eixo” de toda a formação, em alimentar e sustentar a comunhão com Deus e com os irmãos, na amizade com Jesus Bom Pastor, numa atitude de docilidade ao Espírito Santo. A dimensão intelectual implica a aquisição de uma sólida competência filosófico-teológica e uma preparação cultural de caráter geral que permita aos futuros presbíteros anunciar de forma credível e compreensível a mensagem evangélica. A dimensão pastoral consiste em preparar os seminaristas para virem a ser pastores à imagem de Jesus Cristo, através de um espírito que os ajude a ter a sua compaixão, generosidade e amor por todos, especialmente os mais pobres.

MISSÃO: O FIO CONDUTOR DA FORMAÇÃO

Sempre, mas ainda mais à luz dos últimos documentos do Magistério do Papa Francisco, se vê como “fio condutor” de toda a formação presbiteral, a natureza missionária da Igreja. Não faria sentido formar hoje, se não fosse para acompanhar uma Igreja “em saída”. A convergência de sujeitos, dimensões, etapas e agentes existe para “alimentar” o espírito comunitário e universal que parte de Jesus Cristo e se dirige a todos. Se a Igreja precisa de “evangelizadores com espírito” (cf. EG, cap. V), aqueles que têm de se “primeirear” são os que se configuram mais de perto com Cristo, Servo, Cabeça e Pastor da Igreja.

UMA REALIDADE COM VÁRIAS PONTES

A formação inicial para o sacerdócio ministerial ─ que neste nosso momento histórico está a acontecer neste condicionalismo “exodal” em Braga ─ tem várias pontes: uma que o liga à etapa precedente que é a pastoral vocacional e o pré-seminário ou seminário em família, vividos com a proposta de um animado caminho de discernimento vocacional; a outra ponte é a que liga à etapa da vida e ministério presbiterais ─ a da formação permanente ─ na qual se deseja que os candidatos sejam acolhidos de forma solidária e não solitária.

Tem sido um desafio constante e nem sempre fácil de viver o da relação entre estas duas margens da formação na vocação presbiteral: a relação com as famílias e as paróquias/unidades pastorais da diocese na perspetiva da animação e sensibilização vocacional; a relação com a família presbiteral que se é chamado a abraçar como a família à qual e pela qual se é chamado a entregar a vida toda, no serviço comunitário.

Mas há ainda uma outra ponte para uma outra margem, cada vez mais aberta na nossa realidade atual de Seminário: o acolhimento de jovens de países de outros continentes, nomeadamente do Brasil e de Angola. É uma alegria podermos integrar vocações provenientes de países com outras culturas, aceitando o desafio da inculturação e da evangelização que este acolhimento comporta de forma bidirecional, em que todos temos a ganhar do ponto de vista espiritual. É uma provocação para as nossas famílias, comunidades e dinamismos pastorais, mais propriamente o da pastoral juvenil e o da animação missionária. Aqueles que fazemos atualmente parte desta aventura formativa para o sacerdócio ministerial agradecemos a todos os irmãos e irmãs condiocesanos a sua oração e contribuição económica para que esta missão de formar seja possível em favor das comunidades da nossa diocese.

Pedimos um acrescento: falai desta vocação abertamente, nas famílias e nas catequeses, ainda que por entre medos e as vicissitudes sofridas no nosso tempo.

Deixemo-nos animar pela esperança cristã, uma “ponte” ameaçada por fontes de “detonação” diversas.

Para saber mais sobre as diversas etapas do acolhimento e formação presbiteral visite, por favor: www.seminariointerdiocesanosj.pt

Texto: Pe. António Jorge (Reitor do Seminário Maior Interdiocesano de S. José)

Fotografia: Bruno Luís Rodrigues/SDCS