Homilia de D. Nuno Almeida no Jubileu dos Catequistas | Diocese Bragança-Miranda

JUBILEU DOS CATEQUISTAS

Catedral de Bragança, 27.09.2025

HOMILIA

 

Queridos catequistas, irmãos e irmãs!

 

1.Havia um homem podre de rico e havia um mendigo completamente corroído pela miséria. Um vestia púrpura e linho fino, o outro usava uma manta de trapos. Um empanturrava-se desmedidamente, o outro nem as migalhas conseguia. Dum lado está um rico sem nome, sufocado pela sua riqueza e desumanizado pela sua indiferença, enquanto do outro um pobre chamado Lázaro, em silêncio e na companhia dos fiéis amigos, os cães, que vêm lamber-lhe as feridas! Não podia haver maior contraste!

A parábola que escutámos é uma descrição muito atual e factual do fosso insuperável, do abismo infranqueável, entre ricos e pobres. E denuncia também o consumismo desenfreado de um rico anónimo que permanecia cego, surdo, mudo e indiferente ao pobre Lázaro, que jazia à sua porta, coberto de chagas, sem direito sequer às migalhas que caíam da sua mesa. Este homem cavou a sua própria sepultura e quando esperava sair do inferno, que ele próprio criou, deu-se conta que era tarde de mais.

 

2.Há uma distância insuportável entre o rico e Lázaro. O rico não é condenado por ser rico ou por fazer mal ao pobre Lázaro. Simplesmente não o vê. Não lhe liga nenhuma. Não se dá conta, nem quer aperceber-se de alguém que lhe morre à porta de casa. A terrível indiferença do coração anestesiado é o abismo intransponível que os separa. O pecado do rico é o de não ter visto, não ter escutado o clamor, de não ter sentido a dor daquele pobre.

Quem ama muito, vê muitos pobres, quem ama pouco vê poucos; quem não ama não vê ninguém, só se vê a si mesmo e aos seus!

Os abismos que aqui criámos são confirmados na vida eterna, pois no “entardecer desta vida, havemos de responder pelo amor”.

 

3.A fé é sempre um levantar-se do sofá, na hora mais incómoda, para ver e escutar os Lázaros desta terra que são Palavra e profecia de Deus. Assim acontece com os nossos catequistas! A quem dizemos um grande OBRIGADO!

À maneira dos profetas, o catequista não se anuncia a si mesmo, evitando a autorreferencialidade, mas anuncia o Senhor Ressuscitado! Por isso, o catequista procura ser fiel ao sentido mais autêntico da Palavra do Senhor.

A/o catequista pode ser criativa/o em relação às estratégias usadas na Catequese, a um estilo que seja agradável e dinâmico. No entanto, ao mesmo tempo, no que se refere ao tema, aos objetivos, à Palavra proposta e à sua reflexão doutrinal, o catequista está chamado a uma clara fidelidade a Deus, sendo fiel à Igreja. Não tem de inventar, antes fazer sua a proposta da Igreja.

Um sinal dessa fidelidade está no uso dos guias e catecismos aprovados pelos nossos Bispos. Posso não gostar das dinâmicas sugeridas e conseguir substituí-las por outras melhores, mas não posso, de maneira nenhuma, deixar de seguir os programas (sobretudo os temas, com os seus objetivos e Palavra Bíblica indicada), sob pena de estar a arrastar o meu grupo pela vaidade do meu subjetivismo, em vez de proporcionar o encontro com Jesus Cristo.

 

4.É preciso critério na seleção dos catequistas. É preciso oferecer-lhes formação em conteúdos religiosos, sobretudo bíblicos. Porque já sabemos que não há catequese sem Bíblia.

Outra coisa é a competência por parte dos catequistas, que estão cheios de boa vontade e fazem o melhor por darem os melhores conteúdos às crianças na catequese. Dão o melhor de si mesmos, em tempo, em disponibilidade, até mesmo em bens. Agradecemos penhoradamente tudo isto que é fantástico, mas é preciso que os catequistas tenham formação e, porque na catequese a Bíblia é fundamental, então eles têm de ter, prioritariamente, formação bíblica.

Precisamos de mais e melhor formação. Temos de procurar aproveitar os recursos que existem para nos tornarmos mais capazes, melhores pessoas, mais maduros, mais adultos, com uma fé mais profunda. Depois é preciso adquirir as competências concretas para fazer catequese nos vários contextos. Conhecer a realidade onde vivem os catequizandos para as ajudar a ser felizes por que essa é a meta da catequese.

Todas as manhãs de sábado temos o IDEP, à vossa espera no Seminário de S. José de Bragança! Se for necessário os professores podem deslocar-se às Unidades Pastorais!

 

5.Não há iniciação cristã verdadeira fora do seio da comunidade. Por isso, a catequese tem de estar enraizada nas comunidades cristãs, que são espaço privilegiado de escuta, cuidado e vivência da fé. Onde a comunidade vive o Evangelho, a catequese floresce.

Precisamos incentivar a participação dos catequizandos e suas famílias nas celebrações, nos grupos, na vida comunitária. A catequese deve ser mais integrada, mais missionária, mais encarnada na realidade da vida familiar.

Queridos catequistas! A vossa missão é decisiva, é bela, é nobre, é dom e serviço. Procurar sempre a força da oração, a formação e a vida comunitária.

Com os párocos, pais e convosco, queridos catequistas, sonhamos com uma catequese que seja iniciação à vida cristã, e não apenas preparação para sacramentos. Sonhamos com comunidades que evangelizam de forma integrada, numa pastoral comunitária, sinodal e missionária, onde cada batizado se reconhece discípulo e missionário. Sonhamos com uma Igreja que acolhe, acompanha e forma corações para Deus.

Neste caminho, o querigma e a mistagogia não são “teorias modernas”, mas verdadeiros tesouros que nos ajudam a voltar à fonte, a reencontrar a alegria e a esperança do Evangelho e a formar cristãos enraizados na fé, comprometidos com o Reino e peregrinos de esperança.

Que o Espírito Santo, o verdadeiro protagonista da catequese, nos guie e renove sempre!

 

6.Decálogo do catequista “feliz”:

1.É feliz porque procura sempre escutar, meditar e viver a Palavra de Deus.

2.É feliz porque vive e cresce em grupo e em comunidade.

3.É feliz porque celebra, com os catequizandos, o Domingo, o Dia do Senhor e o Senhor dos Dias.

4.É feliz porque procura conhecer e amar profunda e vitalmente Deus Trindade de Amor.

5.É feliz porque o seu testemunho ajuda os catequizandos a pôr em prática a Palavra do Evangelho.

6.É feliz porque vive e promove a partilha e a amizade entre catequistas.

7.É feliz porque procura sempre dar, receber e promover o perdão, celebrando, regulamente, o Sacramento da Reconciliação.

8.É feliz pelo dever cumprido com diligência e competência, confiando na Graça de Deus.

9.É feliz porque procura afinar o ouvido e o coração ao chamamento amoroso de Deus.

10.É feliz porque se sente sempre enviado em missão, como Maria na Visitação, pois a alegria e a esperança do Evangelho iluminam e preenchem toda a sua vida (EG 1). Ámen!

 

+Nuno Almeida

Bispo de Bragança-Miranda

 

ORAÇÃO PARA O TEMPO DA CRIAÇÃO

 

Senhor, Tu amas tudo o que criaste,
e nada existe fora do mistério da tua ternura.
Cada criatura, por mais pequena que seja,
é fruto do teu amor e tem um lugar neste mundo.

 

Mesmo a vida mais simples ou mais breve

é envolvida pelo teu cuidado.
Como São Francisco de Assis,

hoje também queremos dizer:
"Louvado sejas, meu Senhor!".

 

Através da beleza da criação,
Tu revelas-te como fonte de bondade.

Nós te pedimos:
abre os nossos olhos para te reconhecer,
aprendendo com o mistério da tua proximidade a toda a criação
que o mundo é infinitamente mais do que um problema a resolver.
É um mistério a ser contemplado com gratidão e esperança.

 

Ajuda-nos a descobrir a tua presença em toda a criação,
para que, reconhecendo-a plenamente,
nos sintamos e saibamos responsáveis por esta casa comum
na qual nos convidas a cuidar, respeitar e proteger
a vida em todas as suas formas e possibilidades
. (Leão XIV)

Fotografia: António Leça