Homilia de D. Nuno Almeida na Missa de Quarta-feira de Cinzas | Diocese Bragança-Miranda
Quarta-feira de Cinzas
Catedral de Bragança, 05.03.2025
Introdução
O Jubileu de 2025, Ano da graça do Senhor, e a Quaresma deste ano, em direção à Páscoa, são um tempo duplamente favorável, para caminharmos juntos na esperança, para sairmos de nós mesmos, pondo toda a nossa confiança no Senhor e toda a nossa diligência no serviço aos irmãos.
De todo o coração, diante de Deus, reconheçamos a nossa debilidade e o nosso pecado. Estamos aqui reunidos, no início da Quaresma, para pedirmos ao Pai que derrame sobre nós a sua graça e o seu perdão. Por isso, hoje, depois de escutarmos a Palavra de Deus, receberemos as cinzas nas nossas cabeças e este ato de humildade converter-se-á numa oração mais intensa e sincera, para que a força de Deus nos acompanhe neste caminho de conversão que nos conduz à Páscoa.
HOMILIA
1.”Convertei-vos, a Mim de todo o coração”, diz o Senhor (Jl 2, 12)! Mas o que é afinal esta conversão de que tanto se fala?! Antes de mais, conversão significa e implica um «regresso a Deus», um «retorno à Casa do Pai» (Lc.15,17). Conversão implica, pois, sair de si mesmo, como centro do mundo, renunciar a viver de si e para si, para se deixar guiar e transformar por Deus!
Na mensagem para esta Quaresma, o Papa Francisco recorda-nos que, como cristãos, somos chamados a percorrer um caminho em conjunto, jamais como viajantes solitários. O Espírito Santo impele-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro de Deus e dos nossos irmãos, e nunca a fechar-nos em nós mesmos. Caminhar juntos significa ser tecelões de unidade, partindo da nossa dignidade comum de filhos de Deus (cf. Gl 3, 26-28); significa caminhar lado a lado, sem pisar ou subjugar o outro, sem alimentar invejas ou hipocrisias, sem deixar que ninguém fique para trás ou se sinta excluído. Sigamos na mesma direção, rumo a uma única meta, ouvindo-nos uns aos outros com amor e paciência.
2.A conversão, como regresso a Deus e à graça da sua vida, iniciada em nós, pelo Baptismo, não pode desligar-se de compromisso concretos! Hoje mesmo Jesus nos lembrava algumas práticas facilitadoras da nossa conversão: «a esmola, a oração e o jejum» (cf. Mt.6,1-6.16-18)!
Em primeiro lugar, podemos rezar na comunhão da Igreja terrena e celeste. A ORAÇÃO volta o nosso olhar para Deus, para as coisas grandes e amplia a nossa respiração.
Não subestimemos a força da oração de muitos! A iniciativa “24 horas para o Senhor”, que iremos celebrar nos dias 28 e 29 de março, pretende dar expressão a esta necessidade da oração.
Em segundo lugar, o JEJUM que é uma experiência de privação voluntária de alimento ou de um tipo de alimentos; de dependências de todo o género, pequenas e grandes; dos consumos fáceis a que nos permitimos, etc.; adotando um estilo assumidamente frugal que ajude a devolver-nos liberdade.
Em terceiro lugar, a ESMOLA que nos leve a multiplicar gestos de caridade e de partilha. A esmola retira-nos do conforto autorreferencial. Torna objetivos a compaixão, a solidariedade e o cuidado que nos permitem passar da indiferença à responsabilidade pelos outros, sobretudo os mais vulneráveis, bem como pelas casa e causas comuns.
Para que a nossa Igreja Diocesana tenha um rosto sinodal missionário, é absolutamente necessária uma CASA PASTORAL DIOCESANA aberta a todos.
Porque precisamos urgentemente desta Casa aberta a todos na hospitalidade e na espiritualidade, a RENÚNCIA QUARESMAL deste ano de 2025, a entregar nas Eucaristias de DOMINGO DE RAMOS, destina-se para o recomeço das obras da Casa Pastoral Diocesana. Desde já agradecemos o vosso generoso contributo penitencial: “Cada um dê como dispõe em seu coração, sem tristeza nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria” (2Cor 9,7).
3.Procuremos elaborar um pequeno projeto, para esta Quaresma, em três pontos simples:
1º Fixar, com realismo, um tempo de oração diária. Quando e como? Escolha um tempo curto e um lugar certo!
2º Definir uma forma concreta de partilha, de tempo, seja de tempo, de serviço ou de dinheiro ou de tudo isto. Escolha quanto, quando e a quem!
3º Ver com humildade o aspeto da minha vida pessoal, que mais reclama mudança ou melhoria? Se a minha vida «está mais ou menos», então tenho de ver qual é esse «menos», em que preciso de mudar «mais». Começar a preparar a celebração do Sacramento da Reconciliação. “Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus!” (2 Cor 5, 21) – apelo de Paulo que escutámos na 2ª Leitura.
Façamos do confessionário a Porta Santa do perdão divino, motor da nossa esperança. «Reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20), neste tempo duplamente favorável: a Quaresma e o Jubileu!
Mas sobretudo, irmãos e irmãs, peço-vos que levemos muito a peito a Eucaristia Dominical. A Eucaristia seja fonte e cume, porto de abrigo e ponto de apoio firme e seguro, para o nosso fortalecimento interior.
4.A Quaresma deverá ser um tempo para “jejuar” alegremente de certas coisas, para “fazer festa” com outras. Neste tempo deveríamos:
- Jejuar não julgando os outros. Festejar porque Deus-Amor habita neles.
- Jejuar das trevas da tristeza. Celebrar a luz.
- Jejuar de palavras doentias. Alegrar-nos com palavras carinhosas e curativas.
- Jejuar de desilusões. Festejar a gratidão.
- Jejuar da raiva. Festejar a paciência santificadora.
- Jejuar de pessimismos. Viver a vida com otimismo, como uma festa.
- Jejuar de preocupações, queixas e egoísmos. Festejar a esperança.
- Jejuar de pressas e angústias. Fazer festa em oração ao Deus da Verdade e do Amor! Ámen!
+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda