Homilia de D. Nuno Almeida na Eucaristia por alma de Adriano Moreira | Diocese Bragança-Miranda

Missa pelo prof. Adriano Moreira
Aniversário do nascimento
Sé de Bragança, 06.09.2024
Homilia de D. Nuno Almeida

1.A Liturgia aconselha sobriedade nas saudações. Permitam-me, entretanto, que cumprimente, em primeiro lugar, a Dra. Mónica, esposa do Prof. Adriano Moreira. Penso que já a conhecemos através das palavras do seu marido, mas é uma grande honra e alegria encontrá-la pessoalmente, assim com a sua família e a todos os amigos.
Saúdo o Eng. Jorge Nunes; a Vice-Presidente da Câmara, Dra. Fernanda Silva; a Presidente da Mesa da Assembleia e todos os presentes.

2.Recordamos hoje, no aniversário de nascimento, um português ilustre de Trás-os-Montes, originário de Grijó de Vale-Benfeito, Macedo de Cavaleiros.
Trazermos à nossa memória o Prof. Adriano Moreira para agradecermos a quem sempre alimentou a esperança de fazer convergir os valores da História com as exigências do futuro.
Agradecemos a Deus o Dom e os dons da vida concedidos ao Prof. Adriano Moreira e tudo o que nos legou pela sua palavra e ação.
O Prof. Adriano Moreira é daqueles homens do pensamento e da ação que nos fazem compreender melhor o mundo em que vivemos. As suas palavras continuam a iluminar o caminho a seguir.

3.Nesta breve homilia, gostaria de fazer ecoar a Palavra de Deus proclamada e também dar voz ao Prof. Adriano Moreira, evocando a obra “Este é o tempo” (2014): livro entrevista com o meu conterrâneo, o jornalista Vítor Gonçalves. Farei referências ao “Tempo de Vésperas” (1971, 1978, 1986, 2001). Deste livro, afirmou o Prof. Adriano Moreira: “Foi o livro que mais gostei de escrever (…) pois era como se fosse D. Sebastião de Resende, bispo da Beira em Moçambique, a escrever por mim” (Este é o Tempo, 179).
No Prof. Adriano Moreira, a experiência da vida e os saberes desabrocharam naquela síntese maravilhosa, expressão da harmonia, a que os gregos e a Bíblia chamaram sabedoria. É um homem livre e, por isso, promotor da busca de um rosto humano da sociedade, afirmando a civilização como um fenómeno humano, marcada pela grandeza do espírito e não mero resultado de fenómenos.

3.No evangelho escutámos as palavras de Jesus: “Quereis obrigar a jejuar os companheiros do noivo e quando o noivo está com eles?”(Lc 5, 34). Gostaria de sublinhar a palavra “companheiro” – etimologicamente vem de cum panis, aquele com quem se partilha o pão, mais ainda, a palavra, o perdão, o pão, ou seja, a vida inteira.
“Há uma coisa que aprendi com a minha Mãe – confidencia o Prof. Adriano Moreira - que é interessante e vem da cultura do povo: ’Deus é companheiro’. A vida vai mudando e nós vamos tendo mais responsabilidades, mas a nossa relação com Deus permanece, é como termos um amigo sempre ao nosso lado, “Deus é companheiro”. Esta expressão da minha Mãe ficou para sempre na minha vida” (Este é o Tempo, 242).

4.As palavras do Evangelho “vinho novo em odres novos” (Lc 5, 39) apelam para uma visão de futuro, vertebrada por valores, tornando viva e operante uma consciência moral que dê alma à democracia.
O Prof. Adriando Moreira usava muitas vezes a imagem singela do eixo da roda de uma bicicleta. Os valores comuns da humanidade são este eixo, sem este eixo de valores cresce o caos e multiplicam-se as vítimas: valores morais, de legalidade, de defesa dos mais frágeis, de respeito pela natureza, da valorização e proteção da vida humana, etc.? “É um mistério, a origem e o fim da vida” – afirma repetidamente (Este é o Tempo, 269).
O pensamento de Teilhard Chardin marcou profundamente o percurso do Prof. Adriano Moreira. Este famoso jesuíta escreveu: “Cristo é o Alfa e o Ómega, … o princípio e o fim de toda a Criação, a pedra fundadora e a pedra angular, a Plenitude e o Plenificador… Ele é o Centro Único, precioso e consistente, que brilha no cume do mundo a vir”.
Para o Prof. Adriano Moreira, o Cristianismo não é, simplesmente, um sistema de valores em que se acredita, mas, identitariamente, a realidade de uma pessoa a que se adere (Jesus Cristo) e o seu projeto de vida com o qual se é chamado a identificar. O amor do próximo e o respeito pelo outro não são valores do Cristianismo se não são iluminados pela pessoa de Jesus Cristo, pelo seguimento da sua palavra, e pela conformidade com a sua vida. Amar os outros, respeitar a criação, acolher os estrangeiros, proteger os fracos e deserdados, mais que valores a defender, são compromissos a viver. É este compromisso, com a pessoa de Jesus Cristo que é específico do cristão.

5.Paulo, na 2ª leitura, afirma que “o que se requer dos administradores é que sejam fiéis” (1 Cor 4, 1). No Prof. Adriano Moreira, descobre-se uma grandeza humana, a solidez de uma personalidade, a generosidade de uma liberdade, que colabora com todos, mas que ninguém nunca dominou. Com grande liberdade afirma o Prof. Adriano Moreira: “Não podíamos ter deixado degenerar a vida pública como deixámos, com a promiscuidade entre o poder político e o poder económico, que, na minha opinião, é uma das causas principais da decadência do país” (Este é o Tempo, 257). Como são importantes estas palavras e advertência. Sempre atuais!

Estamos a acompanhar e a rezar pelo Papa Francisco, na sua 45ª viagem apostólica, a mais longa visita pastoral ao estrangeiro. O Papa visita a Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura. Afirmou o Prof. Adriano Moreira, depois de ter manifestado toda a sua admiração por São João Paulo II: “Agora temos o Papa Francisco, eu tenho uma esperança imensa nele” (Este é o Tempo, 249).
Quando lemos as obras do Prof. Adriano Moreira sentimos tocar um exemplo concreto da convicção da esperança cristã: há uma continuidade entre a grandeza da vida já vivida e a plenitude da vida na eternidade. Certamente que ele está no número daqueles de quem Jesus disse: os seus nomes estão inscritos no Céu. Ámen!

+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda