Homilia de D. Nuno Almeida na Eucaristia do 23º aniversário da dedicação da Catedral | Diocese Bragança-Miranda
Vigésimo terceiro aniversário da dedicação da igreja Catedral
Bragança, 7.10.2024
Homilia
Caríssimos Padres e Diáconos, Seminaristas, Irmãs de vida consagrada, Irmãos e Irmãs em Cristo (seria bom termos representantes de todos os arciprestados e organismos da Diocese!).
1.Completa-se hoje um ano sobre trágicos e violentos acontecimentos na Palestina. Desde então, aumentou o horror e terror feito de guerras e conflitos que manifestam e fazem alastrar o ódio e a destruição de pessoas e bens. Tudo isto é um enorme desafio à oração perseverante e à nossa identidade e criatividade como construtores da paz. A dificuldade do desenvolvimento integral de toda a sociedade e a capacidade de acolhimento e integração progressiva dos migrantes, é também desafio a não nos fecharmos nos interesses egoístas e particulares, mas a interessarmo-nos, com sinceridade, na melhor integração e desenvolvimento de todos.
Não podemos, entretanto, fechar os olhos a muitas opções que tornam difícil o diálogo e a vida em sociedade: pessoas para quem já não interessam os conceitos de verdade e mentira, interessando-lhes, somente, o que mais lhes convém. Outras rejeitam lidar com os conceitos de bem e de mal, porque correspondem a códigos de moralidade e defendem que, sem limites, seja posto em prática tudo o que for científica e tecnologicamente possível. Outros, ainda, consideram que a cultura da nossa civilização é repressiva e defendem o abandono dos valores comuns tradicionais em relação à família e à defesa da vida humana. É bom lembrar que o Papa, na viagem de regresso a Roma, após a JMJ, explicou que o acolher “todos, todos, todos”, não significava de maneira nenhuma acolher “tudo, tudo, tudo”. Acolher e promover o que nos filializa, fraterniza e humaniza. Recusar tudo o que nos escraviza e desumaniza!
2.Tudo isto é desafiante para quem acredita e sabe que não estamos condenados ao vazio da existência. Que graça tiveram aquelas pessoas que nos refere a primeira Leitura que escutámos, de Neemias (8,2-4a.5-6.8-10); juntaram-se para escutar uma Palavra boa e o efeito foi grande: chegaram às lágrimas. Reconheceram a sua responsabilidade nos afastamentos, na falta de vigilância, no abandono dos códigos de conduta por influências nefastas à sua identidade cultural. A Palavra proclamada atingiu a consciência, não por se sentirem condenados, mas por descobrirem como Deus é cheio de compaixão e refaz em cada pessoa a luz da esperança. E Neemias concluiu: “Hoje é um dia consagrado a nosso Senhor; portanto, não vos entristeçais, porque a alegria do Senhor é a nossa fortaleza”.
A Palavra de Deus proclamada “afinou” a consciência do Povo de Deus. Iluminou o seu pensar, sentir e agir. Como seria bom se a Palavra de Deus, através dos “Grupos Semeadores de Alegria” ou de outros, na Liturgia ou na Lectio Divina nos comovesse e movesse pelos caminhos da paz e do bem!
3.A Diocese de Bragança-Miranda, ao longo destes 23 anos, fez a sua caminhada, com alegrias e fragilidades, escutando e anunciando o Evangelho. Neste caminho aprendeu-se muito, mas diminuíram algumas propostas de formação de leigos, propostas que têm sido lembradas como algo de indispensável. Urge conjugar esforços e promover a formação cristã, concretamente através do IDEP, que está a reiniciar atividades e tem flexibilidade para levar formação cristã e para os serviços pastorais às unidades pastorais e aos arciprestados.
Com o acolhimento da Palavra do Papa Francisco, a partir das conclusões do Sínodo sobre a Sinodalidade, agora na sua fase decisiva e generativa, a Diocese de Bragança-Miranda fará o seu caminho procurando promover a comunhão eclesial na fidelidade a Cristo e na mais profunda comunhão com o Papa Francisco, sucessor do Apóstolo Pedro.
4.A primeira e grande responsabilidade da missão que temos, é promover o encontro e o melhor conhecimento de Jesus Cristo. Foi essa a graça que teve aquela mulher samaritana que escutámos no Evangelho, de tal modo que a levou a afirmar: “Vejo que és profeta” (Jo 4,19). Todos têm direito de “ouvir”, “tocar” e “ver” Jesus Cristo em nós e no meio de nós!
Qual é a descoberta da mulher samaritana? Reconhece que não está a falar com um homem curioso sobre a sua vida, mas com um homem que sabe tudo sobre a vida dela. A mulher samaritana reconhece a autoridade de Jesus e está disposta a aprender e a ser esclarecida sobre o local onde se deve adorar a Deus.
Jesus dá àquela mulher um esclarecimento que traduz a sua própria experiência e constituiu um ensino: “já chegou a hora em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade” (Jo 4,23). Ou seja, não é o local que define a adoração é o espírito com que se está. E se é em espírito e verdade, então significa que a paternidade divina é reconhecida e a proposta da fraternidade cristã acontece.
5.Ao celebrarmos a Solenidade da Dedicação da nossa Catedral, consideremos a beleza da arte que nela existe como um apelo à beleza espiritual de cada cristão. As peças do património da catedral são obra de artistas especializados. Nós, porém, somos obra de Deus, sabendo que Deus não dispensa a nossa colaboração nos acabamentos e na manutenção, podendo nós contar com a sua graça. É isto mesmo que São Paulo lembra aos coríntios e também a nós: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16).
Esta celebração e tudo o que vivemos na Igreja e na sociedade nesta hora, levam-me a lançar um convite forte e respeitoso aos que perderam o entusiasmo, a quem se isolou, a quem vive só para si mesmo e para os seus interesses e problemas e aos cristãos afastados … a retomarem o dinamismo comunitário da fé em encontros com outros cristãos e a empenharem-se em boas causas de participação nas comunidades e em instituições sociais existentes nas diversas comunidades paroquiais da Diocese. Formemos “Grupos Semeadores de Alegria”. Basta ir ao nosso site e encontramos lá o guião a seguir.
Caros irmãos e irmãs: é preciso acreditar e amar a Igreja, serva e esposa de Jesus Cristo! «Renovai, Senhor, a vossa Igreja de Bragança-Miranda com a luz do Evangelho. Fortalecei o vínculo da unidade entre os pastores e os fiéis do vosso povo, (...) de modo que, num mundo dilacerado pela discórdia, a vossa Igreja resplandeça como sinal profético de unidade e concórdia» (Oração Eucarística V/A).
Como a São Bento, nosso Padroeiro, o Senhor nos conceda o dom da arte difícil da escuta ativa e responsável e a confiança ilimitada em Cristo, em Maria, Mãe de Deus e Mãe da Igreja e na Igreja una, santa, católica e apostólica.
Que as propostas do nosso Plano Pastoral e do Jubileu 2025 ajudem a todos a enfrentar dificuldades e isolamentos com o dom e alegria da fé cristã, fonte de felicidade e de esperança. “Feliz és tu porque acreditaste” (Lc 1,45), foi o que escutou a Virgem Maria, nossa Padroeira, Senhora das Graças.
+ Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda
Oração do Papa Francisco para implorar o dom da Paz:
"Ó Maria, nossa Mãe, eis-nos aqui de novo na vossa presença. Vós conheceis as dores e os cansaços que nesta hora pesam sobre os nossos corações. Para Vós, erguemos os nossos olhos; sob o vosso olhar encontramos refúgio; e ao vosso coração nos confiamos.
Também para Vós, ó Mãe, a vida reservou provações difíceis e receios humanos, mas fostes corajosa e audaz: tudo confiastes a Deus, respondendo-Lhe com amor e oferecendo-Vos a Vós mesma sem reservas. Como intrépida Mulher da Caridade, apressastes-Vos a socorrer Isabel; com prontidão, acolhestes a necessidade dos esposos nas bodas de Caná; e com fortaleza de espírito, iluminastes no Calvário a noite da dor com a esperança pascal. Por fim, com ternura de Mãe, infundistes coragem aos discípulos atemorizados no Cenáculo e, com eles, acolhestes o dom do Espírito.
E agora Vos suplicamos: acolhei o nosso grito! Precisamos do vosso olhar de amor que nos convida a confiar no vosso Filho Jesus. Vós que estais disposta a acolher as nossas mágoas, vinde socorrer-nos nestes tempos subjugados pela injustiça e devastados pelas guerras, enxugai as lágrimas dos rostos sofredores de quem chora a morte dos seus entes queridos, despertai-nos do torpor que obscureceu o nosso caminho e tirai do nosso coração as armas da violência, para que se realize sem demora a profecia de Isaías: «transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra, e não se adestrarão mais para a guerra» (Is 2, 4).
Voltai o vosso olhar maternal para a família humana, que perdeu a alegria da paz e o sentido da fraternidade. Intercedei pelo nosso mundo em perigo, para que preserve a vida e rejeite a guerra, cuide dos que sofrem, dos pobres, dos indefesos, dos doentes e dos aflitos, e proteja a nossa Casa Comum.
Ó Rainha da Paz, de Vós imploramos a misericórdia de Deus. Convertei os que alimentam o ódio, silenciai o ruído das armas que geram a morte, extingui a violência que grassa no coração humano e inspirai projetos de paz nas mãos de quem governa as Nações.
Ó Rainha do Santo Rosário, desatai os nós do egoísmo e dissipai as nuvens sombrias do mal. Enchei-nos com a vossa ternura, levantai-nos com a vossa mão carinhosa e dai a estes filhos, a vossa carícia de Mãe, que nos faz esperar o advento de uma nova humanidade onde «o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça» (Is 32, 15-17).
Ó Mãe, Salus Populi Romani, rogai por nós!"
(Basílica de Santa Maria Maior, 06.10.2024)