Fiéis Defuntos | Homilia de D. Nuno Almeida | Diocese Bragança-Miranda
Cemitério do Toural, Bragança
02.11.2024
Introdução
Peregrinos de esperança, celebrámos, em primeiro lugar, a bem-aventurança dos santos, de Todos os Santos, que alcançaram a meta e receberam a coroa de glória. É uma multidão de testemunhas, que nos animam nesta peregrinação de esperança, que nos conduz ao encontro com o Senhor. Alguns destes santos têm imagens nos altares das nossas Igrejas, são venerados como exemplo e auxílio para a nossa fragilidade. Mas, entre “Todos os Santos” estarão muitos, cujos restos mortais se encontram neste cemitério, homens santos e mulheres santas, que viveram e conviveram connosco: santos de “ao pé da porta”, que foram nossos familiares, amigos, conterrâneos, da nossa idade e profissão.
Entre os fiéis defuntos, muitos esperam a nossa oração e a nossa comunhão, para apressar e intensificar o seu caminho de purificação que os conduza ao Céu. Estamos hoje particularmente unidos à Igreja Purgante.
Rezemos todos juntos e unidos, vivos e defuntos, uns com os outros e uns pelos outros. Rezemos pelos que nos morreram da nossa casa, da nossa comunidade, das nossas relações de amizade, confiantes de que também eles intercedem por nós junto de Deus.
Somos peregrinos de esperança. Quem espera em Deus sempre O alcança.
Ato penitencial
P. Para nós e para todos os que partiram antes de nós, invoquemos a misericórdia do Senhor:
P. Senhor, Vós sois o Caminho para a Casa do Pai. Senhor, tende piedade de nós!
R. Senhor, tende piedade de nós!
P. Cristo, Vós sois a Verdade que nos liberta. Cristo, tende piedade de nós!
R. Cristo, tende piedade de nós!
P. Senhor, Vós sois a Ressurreição e a Vida. Senhor, tende piedade de nós!
R. Senhor, tende piedade de nós!
Homilia Fiéis Defuntos 2024
1.«Vou preparar-vos um lugar» (Jo 14,2)! Os que nos morreram não se encontram aqui neste lugar santo e de saudade, mas sim no coração de Deus e nosso coração!
No coração de Deus, há um lugar para todos nós, seus filhos e filhas. É de Deus que esperamos que esperamos a salvação, não é apenas esperança para mim, mas esperança com todos e para o bem de todos. É o próprio Jesus que o diz na Sua promessa aos seus discípulos: “virei novamente para vos levar comigo, para que, onde Eu estou, estejais vós também” (Jo 14,3-4).
Deus oferece-se Ele mesmo, como nossa morada eterna, onde habitaremos para sempre. No seu coração de Pai, há lugar para todos! Assim o proclama o vidente do Apocalipse: “Eis a morada de Deus com os homens. Deus habitará com os homens: eles serão o seu povo e o próprio Deus, no meio deles, será o seu Deus” (Ap 21,3).
O amor misericordioso de Deus é infinito e é mais forte do que a morte, é um amor ressuscitador!
2.Os nossos irmãos e irmãs que nos morreram continuam vivos e a habitar na nossa memória e no nosso coração. O amor é mais forte do que a morte! De outra forma, mas continuamos a amar os que nos morreram e eles continuam a amar-nos. Rezamos por eles e eles intercedem por nós. A sua memória e recordação aponta-nos sempre o caminho da paz e do bem. Estão hoje a dizer-nos que tudo passa e fica, somente permanece e levaremos connosco o bem que fizermos com os nossos bens, sobretudo os bens relacionais, os laços de amor e de amizade que construirmos no nosso dia a dia, na vida familiar, social e eclesial.
Os que nos morreram continuam a morar no nosso coração. O amor é mais forte do que a morte.
A Palavra fala-nos de um Deus, que prepara um banquete (Is 25,6), de um Pastor que nos prepara a mesa na abundância (Sl 22/23,5). Este banquete é a imagem de uma família de irmãos e irmãs, em harmonia, em santa paz; é a imagem da plena comunhão desejada, da nossa vida inteira, alimentada por laços de afeto e de comunhão.
3.Esta imagem do banquete faz-nos pensar que o lugar por excelência para o nosso encontro com os que partiram não é o cemitério, a terra, o ar ou o mar. É a Eucaristia, porque ela é a antecipação do banquete celeste: ela une céu e terra, vivos e defuntos, num mistério de comunhão, que a todos alcança. A Eucaristia faz da Igreja família e de cada família uma pequena Igreja, em comunhão com todos os que peregrinam neste mundo e os que peregrinam na Vida Eterna.
Ao celebrarmos a Eucaristia compreendemos melhor que o lugar dos que nos morreram é o coração amoroso de Deus e o nosso coração! Na Eucaristia está em comunhão a Igreja Triunfante, a Igreja Purgante e a Igreja Peregrinante, que somos nós. De facto, é na Eucaristia que a Igreja manifesta a sua comunhão eficaz com os defuntos” (CIC, 1371). «A Igreja oferece pelos defuntos o sacrifício eucarístico, a fim de que, pela mútua comunhão entre todos os membros do Corpo de Cristo, se alcance para uns o auxílio espiritual e para outros consolação e esperança» (IGMR 379).
O Papa Francisco afirmou ontem (01.11.2024), na Oração do Angelus: “Na Comemoração de todos os fiéis defuntos, quem puder, neste dia, vá rezar junto do túmulo dos seus entes queridos. Também eu irei celebrar a Missa no Cemitério Laurentino de Roma. Não esqueçais: a Eucaristia é a maior e mais eficaz oração pelas almas dos defuntos”.
4.Irmãos e irmãs: peregrinos de esperança, não descuidemos as flores, a velas e as orações, junto da sepultura, como sinal de fé na vida eterna, caridade para com os nossos defuntos e esperança na Ressurreição. Mas procuremos ainda mais na Casa do Senhor um lugar à mesa da Eucaristia. Aqui, sim, encontraremos, em Cristo, todos aqueles que gostaríamos de ter à nossa mesa: os que ainda caminham na esperança, nós que somos a Igreja Peregrinante, os que estão a ser purificados pelo amor do Senhor no Purgatório e os que já alcançaram a meta do Caminho, a Igreja do Céu, dos Santos que ontem celebrámos. Seja a Eucaristia, mesa de peregrinos de esperança, onde há lugar para todos, com todos os santos e para o bem de todos os fiéis defuntos.
Na Bula do Jubileu 2025 escreveu o Papa Francisco:
“Em virtude da esperança na qual fomos salvos,
vendo passar o tempo,
temos a certeza que a história da humanidade
e a de cada um de nós
não correm para uma meta sem saída
nem para um abismo escuro,
mas estão orientadas para o encontro
com o Senhor da glória.
Por isso vivemos na expetativa do seu regresso
e na esperança de vivermos n’Ele para sempre:
é com este espírito que fazemos nossa
aquela comovente invocação dos primeiros cristãos
com que termina a Sagrada Escritura:
«Vem, Senhor Jesus!» (Ap 22, 20)”.
(Papa Francisco, Bula Spes non confundit, n.º 19)
+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda
– No cemitério
Encomendação
P. Estes nossos irmãos adormeceram na paz de Cristo. Na esperança da vida eterna, confiemo-los à misericórdia infinita de Deus nosso Pai, intercedendo por eles com a nossa oração fraterna. Eles que se tornaram filhos de Deus pelo Batismo, sejam agora admitidos à mesa dos filhos de Deus no Céu e tomem parte na herança eterna dos Santos. E oremos também por todos nós, que sentimos a tristeza da separação, para que possamos um dia, juntamente com todos os nossos irmãos que já partiram deste mundo, ir confiadamente ao encontro de Cristo, quando Ele, que é a nossa vida, aparecer na Sua glória.
Todos oram em silêncio durante alguns momentos.
P. Vinde em seu auxílio, Santos de Deus. Vinde ao seu encontro, Anjos do Senhor.
R. Recebei as suas vidas, levai-as à presença do Senhor.
P. Receba-vos Cristo, que vos chamou, conduzam-vos os Anjos ao Paraíso.
R. Recebei as suas vidas, levai-as à presença do Senhor.
P. Dai-lhe Senhor, o eterno descanso, nos esplendores da luz perpétua.
R. Recebei as suas vidas, levai-as à presença do Senhor.
Bênção das sepulturas
P. Oremos. Senhor Jesus Cristo, que, repousando três dias no sepulcro, santificastes com a esperança da ressurreição os túmulos daqueles que creem em Vós, fazei que os nossos irmãos e irmãs, durmam e descansem em paz X nestas sepulturas, até ao dia em que Vós, que sois a ressurreição e a vida, os façais resplandecer com a luz da ressurreição, para que possam contemplar no esplendor do vosso rosto a luz eterna do Céu. Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.
R. Ámen.
Aspersão das sepulturas | Cântico durante a aspersão das sepulturas
Oração conclusiva
P. Nas Vossas mãos benignas, Pai clementíssimo, confiamos a memória, a história e a vida inteira dos nossos irmãos e irmãs que partiram antes de nós, e fazemo-lo com a firme esperança de que hão de ressuscitar, no último dia, juntamente com todos os que morrem em Cristo. Nós Vos agradecemos, Pai de misericórdia, todos os benefícios que Vos dignastes conceder-lhes a eles e, por eles, a todos nós, durante a sua vida terrena, como sinal da vossa bondade e da comunhão dos santos em Cristo. Na Vossa infinita misericórdia, Deus da Vida, abri a estes nossos irmãos e irmãs as portas do Paraíso; e a nós, que ainda vivemos na Terra, reavivai em nós a grande esperança que nos vem da morte e ressurreição do Vosso Filho, até ao dia em que nos encontremos, todos reunidos em Cristo Ressuscitado, e possamos viver para sempre convosco, na alegria eterna. Por Cristo, nosso Senhor.
R. Ámen.
Bênção final – Missal Romano
P. Deus de toda a consolação, que na sua infinita bondade criou o homem e, pela ressurreição do seu Filho Unigénito, vos deu a esperança de com Ele ressuscitar, vos conceda a sua bênção. R. Ámen.
P. A nós, ainda peregrinos neste mundo, conceda o Senhor o perdão de todos os pecados e dê a todos os que já morreram o lugar da luz e da paz no seu reino celeste. R. Ámen.
P. Para que todos nós, que acreditamos em Jesus Cristo, verdadeiramente ressuscitado de entre os mortos, vivamos com Ele na alegria que não tem fim.
R. Ámen.
P. A bênção de Deus Todo-poderoso, Pai, Filho X e Espírito Santo, desça sobre vós e permaneça convosco para sempre. R. Ámen.
Despedida
R. Graças a Deus.
Nota: O pároco fará, se possível, um percurso pelo cemitério, visitando e saudando as famílias em oração junto das sepulturas.