Discurso de Abertura de D. Nuno Almeida na Assembleia de Coordenação Pastoral | Diocese Bragança-Miranda
Assembleia de Coordenação Pastoral, Seminário de S. José de Bragança, 25.10.2025, 10.00h.
ABERTURA
Para uma Igreja Sinodal de todos e para todos: Unidos para anunciar, celebrar e testemunhar a alegria e a esperança do Evangelho
1.Vivemos num mundo que entrou numa espiral de violência e de guerra sem fim, que tem cada vez mais dificuldade em construir oportunidades de encontro e diálogo, em vista do bem comum e da paz. Mais do que nunca, o mundo precisa de uma Igreja que saiba ser, em Cristo, “o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano” (Lumen gentium, 1; cf. DF, 56).
De junho de 2025 – a dezembro de 2026: decorre a fase de implementação do Sínodo e tem como objetivo experimentar práticas e estruturas renovadas, que tornem a vida da Igreja mais sinodal, sendo o Documento Final (DF), na sua totalidade, o ponto de referência para esta fase de implementação, com vista a um desempenho mais eficaz da missão evangelizadora.
O DF convida as Igrejas locais a identificarem também “percursos formativos para realizar uma conversão sinodal palpável nas várias realidades eclesiais” (DF, 9). Portanto, a fase de implementação visa ter um impacto percetível na vida da Igreja e no funcionamento das suas estruturas e instituições.
Crescer como Igreja sinodal exige um saber que se aprende só através da experiência e nos abre uma via para o encontro com o Senhor: “vivendo a conversação no Espírito, escutando-nos uns aos outros, apercebemo-nos da sua presença no meio de nós: a presença d'Aquele que, ao conceder o Espírito Santo, continua a suscitar no seu Povo uma unidade que é harmonia das diferenças” (DF, 1). Fazemos votos de que seja a experiência desta Assembleia!
2.Decorre em Roma o Jubileu das Equipas Sinodais e dos organismos de participação (24 a 26 de outubro de 2025). É uma graça podermos viver juntos, mesmo se à distância, um momento tão profundo de espiritualidade, em união com todo o Povo de Deus, e uma oportunidade para tecer laços, trocar experiências e sintonizar experiências em ordem a novos compromissos. Eis alguns exemplos:
a) a promoção da espiritualidade sinodal (cf. DF, 43-46);
b) o acesso efetivo a funções de responsabilidade e a papéis de direção que não exijam o sacramento da Ordem, por parte de mulheres e homens não ordenados, sejam Leigas ou Leigos, sejam Consagradas ou Consagrados (cf. DF, 60);
c) a experimentação de formas de serviço e de ministério que respondam às necessidades pastorais em diferentes contextos (cf. DF, 75-77);
d) a prática do discernimento eclesial (cf. DF, 81-86);
e) a ativação de processos de decisão em estilo sinodal (cf. DF, 93-94);
f) a experimentação de formas apropriadas de transparência, prestação de contas e avaliação (cf. DF, 95-102);
g) a obrigatoriedade da existência nas Dioceses e nas Paróquias de organismos de participação previstos pelo direito, e a renovação das suas modalidades de funcionamento em chave sinodal (cf. DF, 103-106);
h) a realização regular de assembleias eclesiais locais e regionais (cf. DF, 107);
i) a valorização do Sínodo Diocesano (cf. DF, 108);
j) a renovação em chave sinodal e missionária das Paróquias (cf. DF, 117);
k) a verificação do carácter sinodal dos percursos de Iniciação Cristã (cf. DF, 142) e, em geral, de todos os percursos formativos e das instituições a eles dedicadas (cf.
DF, 143-151).
3.Os números 81-86 do DF traçam de forma concisa, porém incisiva, o perfil do discernimento eclesial, isto é, do método próprio de uma Igreja sinodal. É antes de mais um instrumento de encontro, de crescimento nas relações e de passagem do “eu” para o “nós”. Tudo isto passa por:
a)Processos de discernimento eclesial tanto para identificar as prioridades da missão como para identificar formas e procedimentos de governação adequados a
uma Igreja sinodal.
b)Processos de formação para a sinodalidade.
c) Processos e experiências de escuta e diálogo nas comunidades, a nível local e a nível regional. A experiência demonstrou que as ferramentas digitais também se podem revelar um recurso importante para este efeito.
d)Momentos de celebração, encontro e intercâmbio de experiências entre comunidades dentro de uma Diocese ou entre Dioceses da mesma região.
e)Processos e atividades de comunicação, dirigidas tanto às comunidades cristãs como às sociedades em que vivem, utilizando os instrumentos mais adequados.
f)Percursos de renovação da ação pastoral num contexto concreto ou sobre um tema relevante para cada Igreja local (por exemplo: a promoção de uma participação mais viva na celebração dominical, os percursos catequéticos, o diálogo ecuménico, a integração dos migrantes, etc.).
g)Percursos de investigação teológica, pastoral e canónica ao serviço da implementação do Sínodo nas especificidades do contexto local e no diálogo entre as Igrejas.
4.A Diocese de Bragança-Miranda acolheu com esperança e compromisso o Documento final do Sínodo e delineou um processo de acolhimento e implementação em 3 fases:
1.Análise da realidade pastoral, de forma muito concreta dos 10 anos de implementação das unidades pastorais da diocese. As unidades pastorais são a expressão deste caminho sinodal já implementado na diocese, mas a necessitar de um aggiornamento em relação às equipas e conselhos pastorais. Elaboração da radiografia pastoral da diocese.
2. Formação sobre o processo sinodal e documento final. Esta formação aconteceu nas primeiras jornadas pastorais que se realizaram em 28 de fevereiro e 1 de março de 2024 e também nas reuniões mensais dos arciprestados ao longo deste ano pastoral. A formação do processo sinodal está a ser replicada nas unidades pastorais e movimentos eclesiais.
3.A implementação do novo organograma da pastoral diocesana em 4 comissões pastorais: sinodal, profética, litúrgica e samaritana. De igual forma, a renovação dos Conselhos Diocesanos e as sinergias colaborativas a imprimir num exercício eficaz da sinodalidade.
5.Está nas nossas mãos promover uma maior comunhão, participação e missão na Igreja, na nossa Igreja de Bragança Miranda e amá-la em todo o coração.
É grande o desafio que nos é pedido hoje, em tempos difíceis e sinodais: aprender e reaprender a trabalhar juntos, a realizar o discernimento pastoral que passa por reconhecermos, interpretarmos e decidirmos. Sem nos esquecermos de avaliarmos!
Partindo da realidade em que vivemos, procuremos peregrinar “unidos para anunciar, celebrar e testemunhar a Alegria e a Esperança do Evangelho”.
A LG recorda-nos que a Igreja é, ao mesmo tempo, povo de Deus Pai, Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo (Cf. LG 4). A desordem entra na Igreja quando um só quer ser e decidir tudo ou quando cada um pretende caminhar por sua conta e risco. Nem só um, nem cada um, mas juntos e unidos num caminho comum.
Estamos, de facto, no tempo dos conselhos e das equipas: conselho pastoral, conselho económico, equipa de catequese, de liturgia, da caridade, da pastoral familiar, da pastoral dos jovens.
Precisamos de continuar a caminhar para uma pastoral mais unitária, ou seja, organicamente participada; que valorize e promova os diversos ministérios; projetada e animada por uma equipa (sacerdote-diáconos-religioso-leigos). O maior desafio que, presentemente, se coloca às nossas paróquias é a passagem a este novo tipo de pastoral, que precisamos de aprofundar e continuar sem nenhuma hesitação.
6.Temos a responsabilidade de cansar a voz e os ouvidos numa sociedade sedenta de ouvir e dizer a palavra que comunica, que exprime, que faz relação: palavra de fé.
Temos a responsabilidade de consagrar a vida celebrando Jesus Cristo para discernir o sentido novo da existência a partilhar.
Temos a responsabilidade de darmos as mãos na construção da sociedade que é produtora e consumidora de pão, isto é, de trabalho, de cultura, de natureza, de política, de secularidade, de relação social, de justiça, de solidariedade, em suma, de valores temporais.
E esta responsabilidade de cansar a voz e os ouvidos a ouvir e dizer a Palavra, de consagrar a vida celebrando, de darmos as mãos na construção da sociedade; não é só do pastor, nem só de cada paroquiano que, apenas, individualmente, seria confrontado com a sua consciência, mas de toda a comunidade diocesana e paroquial configurada como sinal de salvação, em Jesus Cristo, para o mundo deste tempo.
Recordemos as palavras do Papa Francisco e repetidas pelo Papa Leão XIV na Dilexi Te: “Desejo afirmar, com mágoa, que a pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé. A opção preferencial pelos pobres deve traduzir-se, principalmente, numa solicitude religiosa privilegiada e prioritária” (EG 200, cf. Dilexi Te, 114).
Que o exemplo de Maria, Senhora da Prontidão (EG 288), nos ajude a sairmos da escuta e do encontro com Cristo para nos pormos todos a caminho, e a toda a pressa, porque é hora de assumirmos esta graça maior: a de ser uma Igreja que existe para evangelizar (cf. EN 14).
Caros irmãos e irmãs: é preciso acreditar e amar a Igreja, serva e esposa de Jesus Cristo, na alegria e na beleza de caminhar juntos! «Renovai, Senhor, a vossa Igreja de Bragança-Miranda com a luz do Evangelho. Fortalecei o vínculo da unidade entre os pastores e os fiéis do vosso povo, (...) de modo que, num mundo dilacerado pela discórdia, a vossa Igreja resplandeça como sinal profético de unidade e concórdia» (Oração Eucarística V/A). Ao mesmo tempo, sejamos uma Igreja da escuta, da celebração e da partilha! Caminhemos juntos e unidos!
+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda
Fotografia: pe. Nélson Vale





