Assembleia diocesana do Clero | Intervenção de D. Nuno Almeida | Diocese Bragança-Miranda
ASSEMBLEIA DO CLERO
Bragança, 06.10.2023, 15.00h
Intervenção inicial do Bispo da Diocese
Senhor D. Fernando, digníssimo Bispo de Zamora
Senhor Vigário-Geral e Vigário Episcopal
Caríssimos Sacerdotes e Diáconos,
Sob o olhar e intercessão de S. Bento, nosso padroeiro, iniciamos este encontro fraterno.
Agradeço de coração a vossa presença e participação. Agradeço também a todos os que justificaram a sua ausência física, pois estão unidos à distância.
Pedimos juntos a bênção e a proteção amorosa de Nossa Senhora das Graças e de S. José.
“Queríamos ver Jesus” (Jo 12, 21). Este pedido de um grupo de gregos aos discípulos, em Jerusalém, continua a ressoar hoje aos nossos ouvidos para que que não só falemos de Cristo, mas também de certa forma O façamos “ver”. “Não é porventura a missão da Igreja refletir a luz de Cristo em cada época da história e por conseguinte fazer resplandecer o seu rosto também diante das gerações do nosso tempo?” (NMI 16). Muito mais do que a “eficiência” é, portanto, decisiva a “transparência”.
É preciso, portanto, promover e facilitar a experiência fundamental da alegria do encontro com Cristo, que nos atrai para o Pai e nos dá a graça do Espírito Santo, que nos santifica, anima e envia em missão.
A força suave do Espírito Santo torna possível a presença viva de Jesus como companheiro, conterrâneo o contemporâneo, mas temos consciência de que é esta a razão de ser de tudo o que existe na Igreja?
Numa costa com frequentes naufrágios, um pequeno grupo de homens, generosos e valentes, construiu um posto de salvamento. Tinham somente uma cabana e um barco salva-vidas! Eram poucos membros, mas dedicados sem nunca regatearem esforços, saindo sempre que era preciso, noite e dia.
Chegaram donativos, compraram mais barcos e o número de filiados cresceu. Melhoraram as condições e o posto de salvamento passou a ser um lugar de encontro, um clube.
Passado alguns anos, contrataram empresas para salvar os náufragos e, algum tempo depois, estes foram proibidos de entrar, pois sujavam e podiam ser perigosos!
Aquele posto de salvamento esqueceu o que era! Uma minoria saiu dali e fundou pequenos postos de salvamento que continuavam a salvar vidas. E muitos destes, por sua vez, foram-se tornando num clube.
Esta bela e interpelante parábola de Theodore Wedel descreve bem o perigo que correm todas as igrejas: o da irrelevância, quando se tornam autorreferenciais. Este perigo está sobretudo à espreita quando têm sucesso. A parábola ressalta, na linha do evangelho, o facto de que a única relevância que realmente importa é a que leva a responder às necessidades profundas das pessoas – relevância que toque as suas vidas e os lugares em que elas sofrem e esperam, protestam e rezam, têm fome de sentido e sede de relacionamentos profundos e nutrientes.
Como são sábias as palavras do Papa Francisco: “Mais do que o ateísmo, o desafio que hoje se nos apresenta é responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro. Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que os cure, liberte, encha de vida e de paz, e ao mesmo tempo os chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não humanizam nem dão glória a Deus” (EG 89).
Urge oferecer um lugar privilegiado aos pobres na comunidade e ao imperativo evangélico de cuidar a fragilidade. O mundo da pobreza (carência de bens essenciais e materiais) e das novas pobrezas (solidão, dependências, doença, luto, separação conjugal, ignorância religiosa, exclusão social, etc.) reclama a atenção de uma comunidade “pobre de meios, mas rica no amor”.
Não basta falar de Deus, mas é preciso deixar Deus falar (DCE 31 c) pelo testemunho do amor gratuito, ou através da sublime “arte cristã de amar”, caraterizada pelo amor místico, realista, oblativo e belo. Nisto conhecerão que somos realmente discípulos missionários.
Estamos a elaborar juntos, sinodalmente, o Projeto Pastoral 2023-26 e o Plano Pastoral para 2023/2024, que será apresentado na manhã do primeiro sábado do advento (dia 02 de dezembro, aqui na Catedral). Agradeço a participação generosa de tantas pessoas, nomeadamente os membros dos secretariados e movimentos. A partir desta semana, recomeçam as reuniões arciprestais com o clero. Em cada reunião arciprestal, procuremos:
1.Reconhecer e registar aspetos da vida social e religiosa que revelam mudanças importantes.
2.Apontar elementos para interpretar a vida social e pastoral em mudança a partir da Palavra de Deus e do Magistério do Papa Francisco, especialmente da EG, do Sínodo, etc. Há que ter presente a visão de Igreja e o respetivo modelo pastoral.
3.Decidir sobre um objetivo geral para o próximo triénio, bem como metas para cada ano e prioridades de ação.
A partir de janeiro de 2024, começamos a visita pastoral. Seguiremos o itinerário de D. José Cordeiro. Este ano pastoral, a visita pastoral percorrerá o arciprestado de Bragança. Procuraremos que seja visita sinodal e evangelizadora.
No passado dia 27 de setembro, acolhemos com grande alegria, na Casa Episcopal, o Frei António Martins, Provincial dos Capuchinhos e o Frei Hermano Filipe da Comunidade Barcelos. Tudo está bem encaminhado para que, a partir de 12 de novembro, tenhamos uma comunidade dos Franciscanos Capuchinhos na nossa Diocese. Visitámos a Casa Paroquial de Argozelo, que será a sua primeira residência. Desde já, um grande obrigado ao P. Aníbal e paroquianos pela disponibilidade.
Gratos por este grande dom, pedimos a intercessão de S. Francisco de Assis e de S. Clara.
Teremos na diocese de Bragança-Miranda, uma "Fraternidade Itinerante de Presença e Apostolado" (FIPA) dos Capuchinhos.
Os Capuchinhos, por três anos, oferecem a sua presença, colaborando, segundo o carisma que lhes é específico, com a Igreja Local, por exemplo, na celebração dos sacramentos, na formação bíblica do povo de Deus, na pastoral juvenil-vocacional, na pregação e na visita aos idosos e doentes.
Constituída por três Irmãos a tempo inteiro, de 2023 a 2026, a FIPA, estará presente na diocese de Bragança-Miranda, onde procurará ser um sinal franciscano da presença de uma “igreja pobre para os pobres”.
A FIPA é também responsável pela coordenação das atividades da Missão Evangelizadora Itinerante (MEI), privilegiando a área da diocese onde estiver inserida.
A "Missão Evangelizadora Itinerante", iniciativa evangelizadora dos Capuchinhos, procura colaborar com os párocos que o desejem e solicitem, sobretudo, mas não exclusivamente, na formação bíblica dos agentes da pastoral e na iniciação dos fiéis à leitura e compreensão da Bíblia.
Que o exemplo de Maria, “Senhora das Graças”, “Senhora Apressada”, “Senhora da Prontidão” (EG 288), nos ajude a sairmos do encontro com Cristo para nos pormos todos a caminho, e a toda a pressa, porque é hora de assumirmos esta graça maior: a de ser uma Igreja que existe para evangelizar (cf. EN 14).
Estamos convocados para uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria (cf. EG 1). Todos têm direito à alegria do Evangelho e nós temos obrigação de nos unirmos para a anunciar, celebrar e testemunhar! Unidos para anunciar, celebrar e testemunhar a alegria do Evangelho!
Contagiemos todos com a luz da Palavra de Deus. A todos! Mas tudo começa com quem está ao nosso lado. A Missão é para chegar a todos, mas começa com quem está ao nosso lado, um a um, na relação pessoal de cada dia. Sejamos Missão ao lado e ao largo!
+Nuno Almeida
Bispo de Bragança-Miranda