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«Um homem do povo que conseguia estar próximo dos pobres e dos eruditos» [1]Qui, 19/11/2015 - 23:36

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A Diocese de Bragança - Miranda vai revelar documentos sobre a vida e obra do Abade de Baçal, até agora desconhecidos, revelou D. José Cordeiro, à margem do Congresso “Vida, Obra e Pensamento de Francisco Manuel Alves, Abade de Baçal”, que decorreu em Bragança na sexta e no sábado.  O Museu do Abade de Baçal fez 100 anos no dia 13 de novembro, data em que se assinalou o 68º aniversário da morte do seu patrono. Trata-se de um acervo que está incluído no chamado arquivo secreto da Casa Episcopal, do qual fazem parte cartas, requerimentos enviados ao bispo de então, a sua atividade como pároco, bem como a sua acção cultural e na sociedade civil. Tudo isto ainda está  a ser catalogado e avaliado. “São documentos que fomos encontrando, que ainda estamos a organizar no chamado Arquivo Secreto”, referiu D. José. O abade era tido como um  espírito livre e popular. “Mas era responsável e dentro de um ideário, capaz de responder por aquilo que escrevia e pelo que dizia. Sendo ele próprio que dizia que se submetia à autoridade eclesiástica e à Igreja no seu todo”, descreveu D. José. A descoberta da vida de Francisco Manuel Alves “tem sido uma aventura muito feliz”, acrescentou. “Um grande” O prelado definiu o abade “como um grande”, que tem de ser valorizado no seu todo, isto é como pároco, etnólogo, investigador e homem da cultura. “Todavia falta mostrar a sua humanidade, o sacerdócio, a sua atividade evangelizadora, que é impressionante e é de uma alma grande”, sublinhou D. José. Enquanto pároco, Francisco Manuel Alves teve duas paróquias, a de Mairos (que agora pertence à Diocese de Vila Real) e a de Baçal,  onde foi reitor e quando completou 70 anos passou  a ter o título de abade. Foi chamado para ser o diretor do Museu Regional, a funcionar no antigo Paço Episcopal, cujo imóvel foi confiscado pela República, edifício onde ainda hoje permanece o Museu do Abade de Baçal e do qual é patrono. “A sua atividade era de grande proximidade com os seus bispos, com os irmãos do sacerdócio, com as autoridades e, sobretudo, com o povo simples. Ao mesmo tempo que fez o trabalho de pesquisa arqueológica, o bispo também lhe pediu que fizesse a recolha dos registos paroquiais de todo o espólio das paróquias”, deu conta o bispo diocesano. Aliás, o arquivo da Diocese de Bragança-Miranda é um dos melhores do país. Erudito, sem nunca deixar de ser um homem do povo, ligado à terra, telúrico e próximo da maternidade da paisagem que fazia parte dele e da qual ele era parte, a faceta humana do abade foi destacada no congresso. Era um homem que conseguia estar próximo dos mais pobres, mas também dos mais eruditos. “Às vezes os eruditos, num primeiro encontro, tinham mais dificuldades na relação, porque não o valorizavam devidamente, mas depois o trato, a sua ciência, arte e sabedoria do coração tornaram-no nesta figura grande não apenas regional, mas nacional”, notou D. José. Homem singular, mas simples Esta figura impar da cultura brigantina, era em primeiro lugar sacerdote. Só depois vinha o restante trabalho multifacetado. No dois dias de congresso várias facetas do abade assomaram. Joaquim Pais de Brito, Professor Associado no Instituto Português de Museus, trouxe uma abordagem “algo diferente”, que passou por mostrar a sua especificidade. “Quase um perfume”, como lhe chama o investigador, da cultura popular da região. A força “enorme” da obra - para além daquela que é a de identificar e restituir documentação que não se conhecia, arquivando e organizando-a - é a de ser um “veículo” dessa cultura. Ora, para Pais de Brito é isso que “lhe mantem a força identitária” para os transmontanos. “Está nos conteúdos, na própria maneira como o abade fala e escreve, nas suas palavras, nos elementos que partilha com os habitantes, sejam os rurais sejam os da cidade”, revelou o investigador. As recolhas e pesquisas feitas pelo abade foram utilizadas por investigadores de renome, como Leite de Vasconcelos e Rocha Peixoto, no entanto, para Pais de Brito o aspeto mais fascinante, e menos explorado do abade, é ver como tanto são importantes os oficiais e as figuras notáveis, bem como o documento, tal como as histórias “pequenas” e marginais. “O que se contava sobre um homicídio pela voz popular ou de um folheto de cordel lido à lareira, ou a vida de um burlão ou do sentenciado injustamente, de um culto popular ou de toda a tradição das bruxas e feiticeiras. Ele faz esse inventário sem estar a rir ou a comentar criticamente ou distanciar-se. Ele não tinha necessidade disso. É secundário se acredita ou não. O que conta é a vox populi”, destacou. Revelava-se, assim, um homem “nada preconceituoso que mostra independência, serenidade, segurança e uma curiosidade permanente”. As Memórias Arqueológico-Históricas do Distrito de Bragança, uma obra vasta e de múltiplas vertentes, são ainda uma “caixa de ressonância”. Podem ser lidas e “quase ser ouvidas, destaca Pais de Brito”. Era “esse falar”, a “fala daqui”, que usa na sua escrita para descrever a cultura popular que chegava a Lisboa e ao Porto. “Talvez em nenhuma das monografias populares que se escreveram em Portugal se encontre esta dimensão e multiplicidade de aspetos”, destacou o investigador, pois possui “o conforto identitário” entre a obra e o território. Ana Maria Afonso, diretora do museu Abade de Baçal, fez um balanço positivo do congresso “que trouxe novas abordagens sobre esta figura imp ar da cultura”. Texto e fotografias: Glória Lopes in "Mensageiro de Bragança", 19.11.2015
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