Homilia de D. Nuno Almeida no encerramento do "Fátima Jovem" | Diocese Bragança-Miranda

Introdução
Celebramos hoje o 6.º domingo da Páscoa, que é também o primeiro domingo de maio, que em Portugal consagramos como Dia da Mãe. Neste tempo pascal, temos bem presente a Virgem Maria, que entre a Ressurreição de seu Filho e a vinda do Espírito Santo, no Pentecostes, permanecia em oração, na sala da Última Ceia, juntamente com os Apóstolos e os primeiros discípulos. Maria acompanhou o seu Filho, desde o berço à Cruz e acompanha a Igreja, até ao fim dos tempos. Por isso, podemos exclamar, cheios de confiança, ao jeito do Papa Francisco: “Temos Mãe. Temos Mãe” (Homilia, Santuário de Fátima, 13.05.2017).
Que a celebração de mais um Dia da Mãe junte, em coro, as nossas vozes para manifestarmos todo o amor e gratidão para com as nossas mães!

Caríssimos jovens, queridos irmãos e irmãs!

1.A vida cristã é essencialmente uma realidade onde superabunda o amor: um amor gratuito e sem limites, que Deus derramou nos nossos corações e que nós devemos dar aos outros.
Se quem ama nasceu de Deus, foi gerado por Deus, então o amor não é nosso; é de Deus. Esta imensa afirmação implica que nunca nos julguemos donos do amor, pois não é nossa a patente do amor. Tem outro registo. Apenas nos é dado humildemente reconhecer que “é gerado por Deus” quem vive no amor.

2.É sempre importante que tomemos consciência de que temos de entregar este amor aos outros, e não de nos fecharmos dentro de uma cerca, numa bolha. O amor é saída corajosa de si, para ir ao encontro dos outros e acolher o dom da sua diversidade.
Somos chamados a amar a Deus e a amar-nos uns aos outros. Assim, o nosso caminho sobre esta terra nunca se reduz a uma labuta sem objetivo nem a um vaguear sem meta; pelo contrário, cada dia, respondendo à nossa chamada, procuramos realizar os passos possíveis rumo a um mundo novo, onde se viva em paz, na justiça e no amor.

3.A todos, Deus ama e chama! A todos escolhe e acolhe, no seu Amor. O seu Espírito Santo habita cada pessoa, criada à sua imagem e semelhança e por isso desce e permanece tanto sobre judeu, como sobre os pagãos, tantos sobre os cristãos como sobre todos aqueles que O procuram de coração sincero. Vimos tudo isto na Primeira Leitura: os judeus convertidos à fé cristã ficam maravilhados ao perceber que o Espírito Santo não conhece fronteiras! Quem responde e corresponde assim ao amor de Deus, convertendo-se a Cristo, não pode deixar de ser acolhido na comunidade dos crentes, através do Batismo, pois Deus não faz aceção de pessoas. Ele tem e mantém a porta aberta, a quantos se deixam tocar por Ele, acolhendo o Seu Espírito de amor.

4.Após a JMJ, caminhamos para o Ano Jubilar de 2025. Caminhamos como peregrinos de esperança, podemos ser no mundo portadores e testemunhas do sonho de Jesus: formar uma só família, unida no amor de Deus e interligada pelo vínculo da caridade, da partilha e da fraternidade.
Somos chamados a ser peregrinos de esperança e enviados para construir a paz.
Cada um de nós, no seu lugar próprio, no seu estado de vida, pode ser, com a ajuda do Espírito Santo, um semeador de esperança e de paz.
Por tudo isso digo mais uma vez, como durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa: «rise up – levantai-vos!» Despertemos do sono, saiamos da indiferença, abramos as grades da prisão em que por vezes nos encerramos, para que possa cada um de nós descobrir a própria vocação na Igreja e no mundo e tornar-se peregrino de esperança e artífice de paz!
Levantemo-nos, pois, e ponhamo-nos a caminho como peregrinos de esperança, para que também nós, como fez Maria com Santa Isabel, possamos comunicar boas-novas de alegria, gerar vida nova e ser artesãos de fraternidade e de paz

5.«O que vos mando é que vos ameis uns aos outros». O amor vivido, partilhado na comunidade cristã é a veste dos cristãos comuns, crianças, jovens, adultos, trabalhadores, pais e mães de família…, este amor dá testemunho da nossa fé em Cristo!
Hoje, mais do que nunca, é esta a maneira de anunciar o Evangelho. A nossa sociedade vive atordoada com demasiadas palavras; dispersa com a saturação de tantas imagens, precisa de ver o Evangelho vivido, posto em prática, capaz de criar um modo sempre novo de nos relacionarmos, marcado pela fraternidade e pelo amor!
Onde alguém testemunha e acende o amor que Cristo trouxe à terra tudo se renova, pois aquele amor não só une a alma a Deus, mas também nos liga uns aos outros.
Não tenhamos medo de viver e declarar a nossa disposição de darmos a vida uns pelos outros: na família, na paróquia, nos grupos, nas associações e movimentos, nas escolas, nas empresas … em todo o lado!
Basta duas ou três pessoas que conscientemente vivem e partilham este modo divino e humano de amar, para que o amor de Deus volte a dar esperança e a tornar-nos construtores de paz!
Chamados pelo nome, para dizermos SIM à paz e empenharmo-nos para que nas situações de conflito se possa chegar a um entendimento e à reconciliação, através do diálogo. Sem a paz o nosso mundo não tem futuro. A paz que vem do Alto e é fruto do esforço humano, a “paz sem vencedor e sem vencidos”.

Senhor Jesus, o Teu Amor não conhece a mediocridade dos cálculos ou a avareza das medidas…
Ensina-nos, Senhor, a amar assim; e, sobretudo, a amar-Te assim.
A amar-Te sem reservas.
A amar-Te com a pobreza dos nossos gestos, a fragilidade das nossas palavras e a clara fronteira dos nossos limites.
Ensina-nos a amar-Te tal como somos: ora reticentes, ora entusiasmados; incapazes de ir além da esquina ou apaixonados pelo arco-íris; perdidos de espanto na contemplação, ou afogados no ruído que o coração não acalma…
Ensina-nos a Amar-Te com a suave tranquilidade de quem primeiro foi amado! Ámen! Aleluia!

+Nuno Almeida
(Bispo de Bragança-Miranda)

 

Fotografia: Ir. Conceição Borges