Homilia de D. Nuno Almeida na Peregrinação Internacional Aniversária no Santuário de Fátima - 12.06.2023 | Diocese Bragança-Miranda

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA

12 de junho de 2023

Est 8, 3-8.16-17ª; Jo 2, 1-11  

 

Homilia

 

Queridos irmãos, queridas irmãs

 

1.Quem encontramos no centro desta narração transformadora, nas bodas de Caná: da água em vinho novo, da angústia em esperança renovada, da tristeza da solidão na alegria da comunhão, da dor e do sofrimento em amor e paz? Surpreendentemente, no coração desta bela cena bíblica, está uma presença feminina, materna, discreta e atenta: a de Maria, a Mãe de Jesus. “A mãe de Jesus estava lá” (Jo 2,1)! Ela é Mãe e causa da alegria. Ela é a Mulher, a figura maior do novo povo de Deus. Ela é “a amiga sempre solícita, para que não falte o vinho [da alegria] na nossa vida” (EG 286).

 

2.E que diz Maria, em Caná, aos serventes? “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5).

É assim que Maria nos ensina a rezar: colocarmo-nos à escuta, sem querermos afirmar diante de Deus a nossa vontade e os nossos desejos, por mais importantes que sejam, por mais razoáveis que nos possam parecer. Devemos sim levar os nossos anseios, necessidades e pedidos até à Sua presença e deixar que Ele decida o que tenciona fazer. Deus quer sempre o melhor para nós.

Fazei tudo o que Ele vos disser”. Com estas palavras, Maria não está a demitir-se. Pelo contrário, Maria, colocada entre o Filho de Deus e os filhos dos homens, mostra-Se inteiramente disponível para obedecer, está pronta para amar e servir. Nesta recomendação aos serventes “Fazei tudo o que Ele vos disser”, Maria envolve-nos, também a nós, no seu próprio sim, quando Ela mesma dissera ao Senhor: “Faça-se em Mim, segundo a tua Palavra” (Lc 1, 38).

 

3.Imitemos Maria na sua total disponibilidade para pôr em prática a Palavra de Deus. Significa, de facto, servir. Esta disponibilidade para servir é a condição que torna possível ao Senhor transformar a nossa vida e humanizar o nosso mundo, a partir do nosso pequeno contributo, da nossa vida, do nosso grupo, da nossa casa, da nossa família. Urge, em tempos em que predominam tentações para o individualismo e comodismo, promover uma cultura do serviço! E por onde começa esta cultura do serviço, que tudo pode enformar, reformar e transformar? Começa sempre pelo “faça-se”. Foi assim no princípio da Criação, quando Deus disse: “Faça-se a luz e a luz fez-se” (Gn 1,3). Foi assim quando Maria disse “Faça-se” (Lc 1,38), “e o Verbo fez-Se Carne” (Jo 1,13)! Foi assim com Jesus, ao entrar neste mundo (Heb 10,7; Sl 40,7-9) e ao partir para o Pai: “Eu venho, ó Deus, para fazer a Tua vontade” (Lc 22,42). É e será sempre assim, quando vivermos o que rezamos no Pai-Nosso: “Seja feita a Vossa vontade” (Mt 6,10).

 

4.Permanecemos especialmente unidos ao Papa Francisco – rezando pelas suas intenções e pela sua saúde – e unidos aos jovens de todo o mundo, na preparação da grande Jornada Mundial da Juventude que a passos largos se aproxima. O coração de Maria está bem no centro deste acontecimento mundial. “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39) - palavra bíblica escolhida pelo Papa para lema desta Jornada.

Convidamos os jovens a imitar Maria, a “levantar-se e  a partir”, não adiando a decisão de participar na Jornada Mundial da Juventude e a fazer a sua inscrição os mais depressa possível!

Para prepararmos bem este acontecimento, é preciso aprendermos de Maria - que se “levanta e parte”, decididamente, para servir Isabel - a pôr em prática um amor solícito, concreto, cheio de audácia e projetado para o dom de nós mesmos. Uma família, uma paróquia, uma comunidade, um movimento ou a Igreja no seu todo inspirada por estas qualidades marianas será sempre uma Igreja em saída, que ultrapassa os seus limites e confins, para fazer transbordar em abundância a graça recebida! Se nos deixarmos contagiar pelo exemplo de Maria, viveremos concretamente aquela caridade, que nos impele a amar Deus acima de tudo e antes de nós mesmos, a amar as pessoas com quem partilhamos a vida diária, a começar pelas pessoas da nossa casa! É um amor que se torna serviço e dedicação, sobretudo pelos mais frágeis, mais vulneráveis e mais pobres, e que transforma os nossos rostos e nos enche de alegria. Um amor que diz sempre ao outro: “Que queres, o que precisas que eu faça por ti”?

 

5.Queridos irmãos e irmãs, especialmente vós, os mais novos, vós, queridos jovens, tende a coragem de perguntar a Deus: Senhor, que quereis que eu faça? Deixai que o Senhor vos fale ao coração e fazei tudo o que Ele vos disser, como nos pede hoje Maria. E vereis a vossa vida transformar-se e encher-se de alegria, como naquele terceiro dia, nas bodas de Caná, a anunciar já a hora gloriosa da manhã de Páscoa!

 

+Nuno Almeida

Bispo auxiliar de Braga e eleito de Bragança-Miranda

 

Despedida: Desta mesa do vinho novo, levai a alegria do Evangelho a todos, a começar pelos de vossa casa. Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe.