Homilia de D. Nuno Almeida na Missa de Domingo de Ramos | Diocese Bragança-Miranda

DOMINGO DE RAMOS

Catedral da Bragança, 13.04.2025

Homilia de D. Nuno Almeida

 

Estimado Sr. D. António Montes, caríssimos padres e diáconos, irmãos e irmãs!

 

1.Hoje, em Domingo de Ramos escutámos o coração do Evangelho: a narração da paixão de um Deus apaixonado pelo homem, que morre por amor.

A celebração litúrgica de Domingo de Ramos tem um duplo sabor: doce e amargo. É jubilosa e dolorosa, pois o Senhor é aclamado e é proclamada solenemente a narração evangélica da Sua paixão.

Somos todos desafiados, especialmente nesta Semana Santa, a abraçar a Cruz de Jesus, deixando-nos abraçar por Ele. Do alto da Cruz, Jesus já não ensina as multidões com a Palavra, mas abre os braços a todos. O gesto da Cruz, o gesto dos seus braços estendidos, é um abraço do Céu à Terra. Na Cruz, Jesus abraça o mundo inteiro.

Estes braços abertos de Jesus na cruz são o grande abraço de Deus à nossa humanidade. Os seus braços abertos consolam-nos e acariciam-nos.

Deixemo-nos abraçar por Jesus Crucificado. Porque só aquilo que, em nós é abraçado por Ele, pode ser transformado (cf. CV 120). Os braços abertos de Jesus na Cruz são o coração de dilatado de Deus, que nos acolhe incondicionalmente como filhos amados para sermos sempre e só irmãos.

2.A esperança nasce do amor e funda-se no amor que brota do Coração de Jesus trespassado na cruz. Jesus trouxe ao mundo uma esperança nova, que Ele comparou à de um grão de trigo lançado à terra. Se não morrer, se não se abrir e quebrar, ficará só. Mas se morrer, dará muito fruto (cf. Jo 12, 24). Jesus estava a falar de Si mesmo: Ele fez-Se pequeno, como a semente de um grão de trigo; Ele «caiu à terra» deixando-se despedaçar pela morte. Precisamente ali, no ponto extremo do seu abaixamento — que é também o ponto mais elevado do amor — brotou a esperança, a tal esperança que nasce da Cruz!

 

3.Para Jesus, dar a vida na Cruz é a conclusão de uma existência totalmente doada. A nossa esperança é, sem dúvida, uma esperança crucificada; ela passa pelo caminho do sofrimento e da dor. Contudo, a esperança de vencer a morte liberta-nos de uma vida fechada sobre nós mesmos e incita-nos a vivermos para os outros e assim a transformar o mundo. Quem vive para os seus interesses só se enche de si mesmo e acaba por perder tudo. O amor é o motor que impele esta esperança.

 

4.Na Cruz, renascem esperanças novas, como o fruto brota da semente: Jesus transforma o nosso medo em confiança, o nosso pecado em perdão, a nossa morte em ressurreição. E isso significa que, doravante, toda a escuridão pode ser transformada em luz, as derrotas em vitórias, as desilusões em esperanças. Jesus dá a sua vida para que todos tenhamos esperança e demos esperança. Sou homem ou mulher de esperança? Procuro cultivar em mim e semear à minha volta a esperança?

 

Irmãos e irmãs: não voltemos a negar, a esquecer, a abandonar, a trocar a companhia de Jesus por coisas banais e superficiais. Subamos juntos e com Jesus a Jerusalém. Não transformemos a Semana Santa numa semana pagã, de folia e de euforia, alheios à Paixão de quem mais nos ama e de quem tanto sofreu por nós. Façamos desta Semana um tempo santo, vivamo-lo juntos, em comunidade, na companhia do Senhor e de quem mais sofre com(o) Ele. Então, sim, subamos juntos a Jerusalém. “Troquemos o instante pelo eterno. Sigamos o caminho de Jesus. A Primavera vem depois do Inverno. A alegria e a esperança virão depois da Cruz” (Hino da Liturgia das Horas)!

 

Senhor Jesus,

Tu és a âncora

da nossa esperança.

No caminho da Cruz,

pomos em Ti a nossa confiança.

ConTigo nada está perdido.

ConTigo podemos sempre renascer.

Faz-nos semeadores

do pão, do perdão e da paz.

Ámen.

 

+Nuno Almeida

Bispo de Bragança-Miranda