Homilia de D. Nuno Almeida na Concatedral de Miranda do Douro | 09.07.2023 | Diocese Bragança-Miranda
Homilia de D. Nuno Almeida
Concatedral de Miranda do Douro
XIV Domingo do Tempo Comum A
09.07.2023
1.Eis-nos aqui reunidos nesta antiga, bela e solene Catedral de Miranda, guiados pelo Espírito que faz de muitos um só corpo.
“Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei”!
É o próprio Cristo que, neste domingo de Verão, nos desafia a entrar n’Ele, a repousar n’Ele, a sossegar n’Ele, a saborear n’Ele o mistério profundo do seu doce amor por nós! De facto, só Ele conhece o que há em nós. E porque “Deus é maior do que o nosso coração”, só Ele pode dar resposta às nossas inquietações, dores, esperanças e sofrimentos. Só n’Ele o nosso desejo de paz se cumpre plenamente. Só n’Ele o cansaço das horas e a opressão dos dias pode dar lugar ao gozo e ao repouso. «Fizestes-nos para Vós, Senhor, e o nosso coração não descansa enquanto não repousa em Vós»! (Sto. Agostinho).
2.Mais do que explicações a Palavra de Deus deste Domingo procura suscitar em nós a experiência profunda da alegria, palavra que está, atualmente, sempre presente no ensino do Papa Francisco. Primeiro o profeta Zacarias, depois da carta de São Paulo aos Romanos e, por último, o Evangelho de São Mateus convidam-nos ao júbilo e à esperança. A alegria e o júbilo não dependem de um evento extraordinário, mas sim de uma certeza quotidiana: Deus está connosco e ama-nos imensamente,
Do Evangelho proclamado, recordemos as simples de Jesus: “Aprendei de Mim que sou sereno e humilde de coração”. O mundo de hoje precisa de pessoas serenas, que saibam “reagir com humilde serenidade” (cf. GE 71) é hoje um dos mais urgentes testemunhos de santidade! Neste tempo, de tensões, de violências, doméstica e social, de uma guerra mundial em pedaços, tempo em que tanto ansiamos pela paz, usar de serenidade e humildade significa pôr no lugar da malícia a inocência, [pôr] no lugar da força o amor, [pôr] no lugar da soberba a humildade, [pôr] no lugar do prestígio o serviço; significa preferir o mel ao fel, [preferir] a simplicidade à exuberância, [preferir] a humildade à arrogância, [preferir] a mansidão à violência, [preferir] o perdão à vingança, [preferir] a ternura à agressividade, [preferir] a docilidade à dureza, [preferir] a gentileza à rudeza, [preferir] a escuta à acusação, [preferir] a unidade ao conflito. Na prática, não queiramos ter a última palavra na discussão, não respondamos ao mal com o mal, cuidemos dos mais vulneráveis. Só um coração sereno e humilde desarma as resistências e violências dos que se aproximam de nós zangados com a vida!
3.Continuando a pôr em prática o Plano Pastoral, como seria bom que, particularmente, os jovens se deixassem “contagiar” por uma grande afeição pelo Evangelho. É o Papa Francisco que os convida: “Cristo chama-vos e envia-vos. Abri o vosso coração. Tende a coragem e a ousadia de levar o Evangelho aos outros, oferecendo-o e não o impondo. Renunciai a fazer da vossa vida cristã um museu de recordações. Fazei antes a experiência da alegria do serviço aos mais pequenos, do compromisso na Igreja, do voluntariado missionário nesta vossa terra ou pelos confins do mundo. Preparai-vos não apenas para o vosso bom êxito profissional, mas fazei da vossa vida um dom para melhor servir aos outros (cf. Papa Francisco, Discurso aos jovens em Talin, 25.09.2018 e MDMM 2018).
Está mesmo à porta a Jornada Mundial da Juventude. Juntamente com os jovens, testemunhemos e levemos a alegria do Evangelho a todos, a começar por quem está ao nosso lado até chegar aos confins do mundo.
É preciso reunirmo-nos, de muitos modos, para a escuta e para que a Palavra se faça vida e a nossa vida se faça Palavra.
4.Estamos em movimento desde 10 de outubro de 2021, quando o Papa Francisco convocou toda a Igreja para o Sínodo “Por uma igreja sinodal: comunhão, participação e missão”.
A comunhão e a missão nutrem-se da participação comum na Eucaristia, que faz da Igreja um corpo «reunido e unido» (Ef 4,16) em Cristo, capaz de caminhar em conjunto rumo ao Reino. Uma Igreja sinodal nutre-se incessantemente na fonte do mistério que celebra na liturgia, «a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde dimana toda a sua força» (SC 10), e em particular na Eucaristia.
Uma Igreja sinodal é uma Igreja do encontro e do diálogo, que escuta e procura ser humilde, sendo capaz de pedir perdão e que tem muito a aprender. É aberta, acolhedora e abraça a todos, mas sabe propor e anunciar, respeitosamente, caminhos novos a partir do Evangelho, numa compreensão sempre mais profunda da relação entre o amor e a verdade.
Temos consciência de que as instituições e estruturas por si só não são suficientes para tornar a Igreja sinodal: são necessárias uma cultura e uma espiritualidade sinodais, animadas por um desejo de conversão ao Evangelho, alimentadas pela Eucaristia e sustentadas por uma formação adequada: integral, inicial e permanente, para todos os membros do Povo de Deus.
Senhor Jesus,
Dá-nos um coração puro e transparente
Como uma nascente,
Como uma semente,
E ensina-nos a ser simples e leves
Como aquele pássaro que do céu desce,
E reza, canta, alimenta-se e agradece. Ámen!
EIS-ME AQUI HOJE ENTRE VÓS, COM O SOBRESSALTO E A CONFIANÇA DOS ENVIADOS.
ESTOU AQUI PARA PARTIRMOS JUNTOS, SINODALMENTE, COMO “IGREJA SERVA QUE EDUCA, CELEBRA E FESTEJA”, À PROCURA DOS MELHORES CAMINHOS, NA ESCUTA RECÍPROCA E NA ATENÇÃO AO ESPÍRITO SANTO, NA CERTEZA DE QUE O MAIS IMPORTANTE É OLHARMOS SEMPRE PARA AQUELE CAMINHANTE MISTERIOSO DE EMAÚS QUE CONSTANTEMENTE NOS ILUMINA O CAMINHO E NOS FORTALECE COM A SUA PRESENÇA.
ASSIM SEREMOS UMA IGREJA CADA VEZ MAIS BELA E MAIS FIEL À SUA MISSÃO: DISCÍPULAS E DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS, DE IDADES E CONDIÇÕES DIFERENTES, MAS UNIDOS NO NOME DE JESUS! E ELE DIZ-NOS TAMBÉM HOJE: "NÃO TEMAIS... ESTOU CONVOSCO ATÉ AO FIM DOS TEMPOS"! (MT 28, 20).
+ Nuno Almeida