Homilia de D. Nuno Almeida na Bênção da Via-Sacra no Santuário da Senhora da Paixão | Diocese Bragança-Miranda

BENÇÃO DA VIA-SACRA

SANTUÁRIO DA SENHORA DA PAIXÃO

ARNAL, CARRAZEDA DE ANSIÃES, 12.04.2025

 

Homilia (Ramos)

 

1.Na narração da Paixão, percorremos com Jesus a etapa mais importante e decisiva da sua vida entre nós: o caminho do Calvário, o caminho da cruz.

O caminho de Jesus é Deus que sai de si mesmo para caminhar connosco. «O Verbo fez-Se carne e caminhou entre nós». E fá-lo por amor; faz isso por amor. E a Cruz é o ícone, é a figura deste caminho. A Cruz é o sentido maior do maior amor, daquele amor com que Jesus quer abraçar a nossa vida. A nossa? Sim! A tua vida, a de cada um de nós, a de todos. Jesus caminha por mim. Temos de o dizer a todos. Jesus empreende este caminho por mim, para dar a sua vida por mim. E ninguém tem maior amor de quem dá vida pelos seus amigos, daquele que dá a vida pelos outros. Não nos esqueçamos disto: ninguém tem maior amor de quem dá a vida. Assim o ensinou Jesus. Por isso, quando contemplamos o Crucificado, naquela condição tão dolorosa, tão dura, vemos a beleza do Amor que dá a sua vida por cada um de nós.

Será que ao contemplarmos os Passos do Senhor em direção à Cruz, reconhecemos e encontramos os caminhos e passos das nossas vidas e do nosso mundo? Assim será ao percorrermos as estações da Via-Sacra que iremos benzer de seguida?

 

2.Jesus dá a sua vida para que tenhamos esperança e demos esperança! Sou homem ou mulher de esperança? Procura semear e fortalecer a esperança à minha volta? Jesus, nossa Páscoa e nossa Paz, está diante de nós como alguém que tem o seu coração repleto de esperança e que dá esperança até ao fim!

“Enquanto à vida, há esperança!” diz o ditado. Mas é também verdade que “enquanto há esperança, há vida”, pois a esperança é o pulmão que oxigena a existência, o motor que faz avançar a vida. Esperar faz lutar e avançar!

Para Jesus, dar a vida na cruz é a conclusão de uma existência totalmente doada. Os braços abertos de Jesus na Cruz são o coração dilatado de Deus num acolhimento incondicional de todos como filhos e para sermos irmãos.

 

3.Na Via-Sacra descobrimos um mundo violento que tortura e mata Jesus Cristo. Que violência! Jesus viveu num mundo violento e foi vítima dessa violência.

O nosso mundo não é muito diferente: guerras, atentados, tiroteios, violência no namoro, entre marido e mulher, na família, abusos de crianças, bullying, abusos de poder.

São muitas as pessoas que têm de fugir de suas casas e das suas terras para não morrerem. Fogem da guerra, da fome, da falta de água, das perseguições políticas.

Precisamos que o Senhor nos salve das dependências da droga, do álcool, da pornografia, do jogo e de nós mesmos, pois andamos perdidos num mundo da imagem, encerrados em nós mesmos num mundo de espelhos, onde o que conta é a aparência, a imagem. O nosso tempo é o tempo das selfies e das poses nas redes sociais.  O maior perigo é quando em vez de termos este ou aquele problema, somos nós o problema!

4.Aqui fica a Via-Sacra para podermos contemplar sempre o Amor maior, o Amor em sim Maior! É a história de amor narrada na Via-Sacra pode guiar todos os que sofrem, todos os que recomeçam uma e outra vez. O amor de Jesus atravessa a dificuldade e ultrapassa-a. Não elimina a dor, mas ilumina-a com o amor. Jesus cai connosco para connosco se levantar.

Nas estações da Via-Sacra, encontramos a nossas vidas, somos sempre convidados a abraçar-nos a Jesus para que ele nos levante e nos abra sempre novos horizontes de esperança.

 

+Nuno Almeida

Bispo de Bragança-Miranda

 

SENHOR DOS PASSOS

 

Senhor Jesus,

Senhor dos Passos

serenos e seguros no caminho da vida e da Paixão,

da ressurreição.

Senhor Jesus,

Senhor dos Passos

sossegados e firmes,

resolutos,

até à porta do meu coração.

Senhor Jesus,

Senhor dos Passos,

dos meus e dos teus,

finalmente harmonizados,

finalmente lado a lado:

os meus, imprecisos, indecisos,

atravessados pelo teu Perdão;

os teus, sossegados e firmes,

sincronizados pelo pulsar do meu coração.

Sim,

eu sei que foi por mim que desceste a este chão

pesado, íngreme, irregular,

de longilíneas lajes em que é fácil escorregar.

mas os teus braços sempre abertos ajudam-me a levantar.

Senhor Jesus,

deixa-me chegar um pouco mais junto de ti,

chega-te tu também mais junto de mim.

Segura-me.

Dá-me a tua mão firme, nodosa e corajosa.

Agarro-me.

Sinto sulcos gravados nessa mão.

Sigo-os com o dedo devagar.

Percebo que são as letras do meu nome.

Foi então por mim que desceste a este chão.

O amor verdadeiro está lá sempre primeiro.

Senhora das Dores, Maria, minha Mãe,

que seguiste até ao fim os passos do teu Filho,

acompanha e protege os meus passos também.

Obrigado, Senhor Jesus,

meu Senhor, meu Irmão e companheiro. (António Couto)

 

Fotografia: Susana Taveira.